Açodamentos cívicos e militares

Açodamentos cívicos e militares




Na edição de ontem, “O Pergaminho” publicou que, na próxima terça-feira, as escolas estaduais Rodolfo Almeida, Abílio Machado (Polivalente), Joaquim Rodarte e Jalcira Santos Valadão (Escola Normal) irão promover reuniões com suas comunidades (funcionários, pais e alunos) para decidir se adotarão o modelo cívico-militar.

Foi divulgado que tal modelo envolve uma gestão compartilhada entre educadores e militares  “com o objetivo de melhorar a disciplina e o ambiente escolar, além de promover valores como civismo e cidadania”. Policiais da reserva serão contratados com salários em torno de 30% do soldo.

Para dar a possibilidade de o leitor conhecer a diversidade de pontos de vista, dois articulistas escreveram artigos reflexivos: Wladmy Soares e Jorge Zaidam. Prós e contras foram apontados e um questionamento importante veio à tona por meio de um importante militar da ativa que pediu para seu nome não ser revelado: Quem irá avaliar e avalizar a capacidade psicológica desses militares da reserva para lidarem com crianças e adolescentes?

Independente das opiniões se devem ou não haver militares nos pátios e corredores durante os intervalos das aulas nas escolas estaduais formiguenses, o que não deixa dúvidas é que resolver tudo em uma semana sem que haja seminários, debates com especialistas em educação, rodas de conversas com a sociedade organizada é um açodamento que não se justifica. A comunidade escolar, principalmente os pais, não foi exposta a todas as informações necessárias para uma decisão consciente e séria. 

É bom deixar bem claro para a sociedade que o que se pretende instalar não é uma escola militar que coloca os alunos com a possibilidade de seguir carreira no Corpo de Bombeiros, na PM ou nas Forças Armadas. E se todas as escolas formiguenses votarem a favor do modelo e tempos depois chegarem à conclusão de que não foi a melhor decisão? Dá para imaginar o quão complicado vai ser voltar atrás. E os pais que não quiserem seus filhos sendo revistados por militar depois de alguma estripulia, onde colocará seus filhos?

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) trouxe um recorde de 60 redações nota mil, nenhuma delas veio de escolas militares ou cívico-militares. Enquanto o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) revela que 56 dessas notas máximas foram conquistadas por estudantes de escolas privadas, quatro brilharam nas escolas públicas.

Seja qual for a decisão, ela deve ser respeitada, mas não pode haver nenhuma manipulação, há de se discutir, pensar e colocar em tela toda a verdade sobre a realidade que se horizonta.