Cronicando: Purgatório

Robledo Carlos (de Divinópolis)

Cronicando: Purgatório
Robledo Carlos é membro da Academia Formiguense de Letras




Se ajeitou na miséria.Muitos gritos de silêncio

para sorrisos de Lúcifer.Tinha nas mãos uma lâmina

e vivia como mísero.Detinha um bom comércio,

nas costas curva, o básico.Olhava por outro ângulo,

nunca fez parte do círculo, talvez fosse mais didático.

Tinha um perfil poéticoe sempre foi mais enfático

do que simplesmente crítico. Da existência fez fábula.

Dessa vida nem notícia nem tão pouco jornalística,

desprezando a matemática e odiava os números,

os gráficos e os índices. Trazia era a memória,

ótima e muito lúcida.

Era por mulher fanático e delas, fez um exército

diante de tantas, próspero. Mas não se dava ao mérito

era quase uma mácula que se fazia tão lógico

sua pobre existência. Aos ouvidos eram músicas,

embebiam o espírito que desciam claras e límpidas

acolhidas em seu fígado. Era um amor efêmero

curtido em noites bêbado, do fracasso se fez álibi,

do trabalho o desânimo. Resolveu virar um pássaro,

queria sair do pântano. Teve então um presságio,

que quebraria o cálice, espatifando-o trágico

terminando a catástrofe. E quis por fim na tragédia.

Desarmou com elegância, pos fim à lâmina tática,

subiu ao alto do prédio, o mais alto edifício,

tirou dos pés as sandálias e num instante prostático

junto aos teus pés a glória, ou quem sabe umas férias

e com saco como pêndulo atirou-se nú em fascínio

e caiu como uma pétala.