Extinção

Extinção
Anísio Cláudio Rios Fonseca (de Formiga/MG)




E se já não bastassem as complicações e dilemas comuns, a massificação da IA acaba por lobotomizar o restante da população. Algo que poderia apenas ter aplicações incríveis no avanço da ciência acabou por criar uma legião de desocupados que utilizam o recurso de maneira torpe e irresponsável.

Em sua obra “A origem das espécies”, Darwin foi ridicularizado pela comunidade científica da época devido à sua revolucionária linha de pensamento, mas acabou por se impor devido à lógica contundente de seus estudos (e nem era Biólogo). Ele teve em Sir Willian Huxley seu maior discípulo e ardoroso defensor. A ideia de que espécies evoluíam ou desapareciam constantemente devido à seleção natural ia de encontro com as convicções da igreja, daí a eterna briga de foice entre igreja e ciência. 

Sendo o homem a espécie que dominou o planeta (fora os insetos), existiu uma verdadeira saga entre os homens primitivos e o homem atual. Com os animais, a seleção foi muito mais impressionante. Registros fósseis nos mostram a grandiosidade de espécies extintas, desde os dinossauros até a megafauna, sendo que o representante mais conhecido da nossa região foi aquele fóssil de mastodonte encontrado na divisa com Pains, cuja verdadeira história contarei um dia. 

Havia na animais tão extremamente especializados que se tornaram verdadeiras fortalezas ambulantes. É o caso dos gliptodontes, gigantescos “tatus” cuja carapaça quase rivalizava em medidas com a carcaça de um fusquinha. Alguns povos dos pampas Argentinos as utilizavam como barracas. Este animal era praticamente invulnerável, já que todo o seu corpo era recoberto por placas córneas até a ponta da cauda. Pacífico, ficava pastando e quando os predadores chegavam, ele se encolhia em sua fortaleza. Acontece que, com modificações extremas assim, o animal acabou sendo refém de sua própria fortaleza, vulnerável a qualquer modificação em seu meio. Pequenas mudanças climáticas foram suficientes para extingui-lo, sendo que a extinção da megafauna como um todo se deveu a uma série de fatores interligados, dentre eles a ação antrópica. 

Atualmente algo parecido ocorre no âmbito profissional. Cada vez mais as pessoas estão focando suas profissões em uma área tão específica que, se houver qualquer modificação na demanda de seus serviços, ficarão em apuros. O profissional deve ser eclético e ainda assim manter uma área de especialização, sem detrimento das outras. Como exemplo, a pessoa que cuida da minha dentística é ortodontista, mas continua trabalhando muito bem com a dentística tradicional, mantendo sua antiga clientela. O mesmo vale para outros tipos de trabalho; nunca se deve colocar todos os ovos na mesma cesta, porque se ela cair, você vai ficar sem nenhum. 

A COVID extinguiu instituições de ensino que não conseguiram se adaptar ao ensino online. Com o EAD, muitas instituições recuaram, mas agora retomam fôlego com as novas regras governamentais sobre este tipo de ensino. Nada mais Darwinesco do que isso. Não é o mais forte, mas sim o que melhor se adapta. O advento da IA coloca tudo em xeque novamente. A maioria das profissões pode estar com os dias contados. 

** Espero ter sido bem claro, pois nada tenho contra a IA (útil), as especializações e outras formas de educação. Apenas alerto para que ninguém fique preso num mundinho que sofre modificações logarítmicas e extingue espécies “excessivamente especializadas”.

Anísio Cláudio Rios Fonseca é professor do Unifor-MG, coordenador do laboratório de mineralogia e especialista em Solos e Meio-Ambiente E-mail: anisiogeo