Figos Secos

Figos Secos
Robledo Carlos é membro da Academia Formiguense de Letras




Ao longo do meu desfacelamento, fui aprendendo a técnica de remendos. Pequenos momentos de felicidade os fiz de chita, os sofrimentos cerzidos.

Aprendi a desarmar armadilhas da vida.

O que é bonito é sempre bonito, já o feio, às vezes, acho mais bonito que o lindo.

São velhos os meus amanhãs. Vou me lascando aos pouquinhos, sou epiderme que cai e apodrece.

Me carrego mudando daqui pra ali, de lá pra cá. Sou o homem que vive nas nuvens, nimbus escuras de tempestades.

Me acostumei ao cinza.

Talvez seja poético ser lunático.

Vejo tristeza no cimento, nas janelas de apartamentos fechados, nas espadas de São Jorge em casas abandonadas. Sou o melancólico da música do Fantástico!

Divera, sou um morador solitário no ninho, habito este lugar cheio de gente igual a mim e, de certo modo, ainda mesmo em saculejos e balanços, me sinto dentro da aljava do Arqueiro.