O ouro líquido de Córrego Fundo

O ouro líquido de Córrego Fundo
Cida Leal é jornalista, córrego-fundense e escreve sobre economia às terças-feiras




Mais de dois milhões de litros de cachaça saem todos os anos dos alambiques córrego-fundenses, consolidando o município como o 2º maior produtor de Minas Gerais. Uma tradição de quase um século que continua a gerar riqueza, reconhecimento e sabor.

Em Córrego Fundo, o tempo parece correr no compasso dos alambiques. O vapor que sobe das caldeiras mistura-se ao cheiro doce da cana e à memória de um ofício que atravessa gerações. Não é apenas cachaça o que se produz ali... é história engarrafada, é o retrato líquido de um povo que aprendeu a transformar trabalho em tradição.

O município conta hoje com dez alambiques registrados e outros tantos a caminho da legalização, em uma engrenagem que move não só a economia, mas também o orgulho de quem vive da arte de destilar.

Cerca de 90% da produção segue viagem para outras regiões do país, levando consigo o nome de Córrego Fundo e o sabor de suas raízes. O segredo não está apenas no cobre dos alambiques, mas na paciência de quem entende o tempo da fermentação, o ponto exato do corte, o aroma certo do barril. O saber, passado de pai para filho, é o ingrediente invisível que dá alma à bebida.

Cachaça: nossa história engarrafada

Há 65 anos, um homem chamado José Cândido da Silveira, o Terra, trouxe o jeito de fazer cachaça para Córrego Fundo. Desde então, o som do fogo aceso sob o alambique e a rotina de produzir cachaça, do plantio ao engarrafamento, se tornaram parte da paisagem.

Hoje, a cachaça local já não cabe nos limites da cidade. Ela cruza fronteiras, conquista paladares, sobe aos pódios de concursos municipais e estaduais. Em cada garrafa, há o sabor do trabalho, a doçura da cana e o orgulho de uma gente que destila a própria identidade.

Na base desse movimento, a Coopercalc (Cooperativa dos Produtores de Cachaça de Alambique da Região Calcária Ltda.) reúne 25 associados, sendo 14 de Córrego Fundo. A cooperativa é mais que uma entidade, é um elo entre histórias, uma forma de garantir que a tradição siga firme, com qualidade, padronização e novas oportunidades.