Opinião: Bom dia, presidente!

Jorge Zaidam Viana de Oliveira (de Formiga/MG)

Opinião: Bom dia, presidente!
Jorge Zaidam Viana de Oliveira é Professor veterano de história




No período de 7 de abril de 2018 a 8 de novembro de 2019, quando o cidadão que hoje ocupa a cadeira da Presidência da República, estava preso numa cela da Polícia Federal de Curitiba-PR, cumprindo pena pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, um grande grupo de militantes petistas fez vigília do lado de fora do prédio da superintendência da PF, durante esses 580 dias, com a tarefa de todas as manhãs gritarem em uníssono “Bom dia, presidente!!!”.

Se eram pagos por alguém para o cumprimento dessa tarefa, a mídia não divulgou. Se incomodavam os moradores das imediações, a mídia não se importou. Se estavam praticando um ato antidemocrático por estarem de certa forma contestando uma decisão da Justiça, a prisão de um corrupto, a mídia não deu ouvidos. Contudo a imprensa apoiou, deixando bem claro que era uma manifestação legítima daqueles que discordavam de um ato da Justiça.

Dia sai, dia entra, o agora ex-presidiário foi liberto por manobras jurídicas de uma certa corte suprema, que determinou que só se inicia o cumprimento de uma pena depois de esgotados todos os recursos possíveis e não mais após a segunda instância, como já havia sido decidido em outras oportunidades para criminosos comuns, mas agora era um peixe graúdo, cometeu crime, mas era influente. Aqueles juízes-ministros a ele deviam favores e a maioria deles não perderia a oportunidade de demonstrar a sua gratidão pelo grande obséquio de terem sido indicados para ocupar uma cadeira de um dos poderes da República, indicações estas feitas justamente pelo depois descondenado e pela presidente, do mesmo partido, que o substituiu.

Mas o esquema não parava aí, não podiam deixar o Chefe com o estigma de um condenado, mesmo que a sentença tivesse sido confirmada por dois órgãos colegiados. Afinal de contas ele é o Chefe. Inocentá-lo seria impossível, as provas eram robustas, até dinheiro foi devolvido. Algo precisava ser feito. Para quem tem a caneta em um país que não é sério como o nosso, nada é impossível. Então vamos anular todos os processos, sugeriu algum togado supremo, aleguemos que o CEP – Código de Endereçamento Postal – da comarca onde ele foi condenado em primeira instância é inválido. Tudo acertado e ajustado, o desfecho da tramoia todos nós conhecemos.

Restava o gran finale, o Chefe tinha que voltar a ser o líder da corrupção. Ops! Da nação. Então vamos conduzir a eleição de modo que ele ganhe de qualquer jeito. Como dizia a sua sucessora, aquela que foi impichada, “nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição”. Ou como bradou outro supremo-togado de lustrosa calva, é só tocar o terror e ameaçar com multas e prisões quem se opor ao nosso projeto. Afinal, em um país de manés, eleição não se ganha, se toma. Missão dada, missão cumprida.

Consequência do grande esquema, milhares e milhares de pessoas à frente dos quarteis das Forças Armadas em todo o Brasil, contestando o resultado do pleito em manifestações pacíficas, com raríssimas exceções de alguns poucos tresloucados, que não faziam parte dos grupos desses cidadãos ordeiros. Neste momento a mídia gritou: “São atos antidemocráticos”, “estão contestando a Justiça”. Lá em Curitiba, manifestantes puderam acampar em um espaço público por um ano e meio para, diariamente, com um sonoro “Bom dia, presidente!!!”, contestar outro ato da Justiça, a condenação de um corrupto, mas lá, para a imprensa, era uma manifestação democrática. Já agora...

Sei que alguns vão dizer que o choro é livre. Ao que eu completo, chora mais quem chora por último, porque, pelo que se vê nesse início do andar da carruagem, vislumbra-se que dias melhores infelizmente não virão.

jorgezaidam@hotmail.com