Opinião: Coisas interessantes sobre Furnas

Anísio Cláudio Rios Fonseca (de Formiga/MG)

Opinião: Coisas interessantes sobre Furnas
Anísio Cláudio Rios Fonseca é professor pesquisador e coordenador do Laboratório de Mineralogia do Unifor-MG e-mail: anisiogeo@yahoo.com.br (Footnotes)




A utilização do lago de Furnas para atividades diversas de lazer e extrativismo já é mais do que conhecida. Desde que o marco dos 2000 km de estradas asfaltadas no governo Juscelino foi encoberto pela represa de Furnas, feita em seu governo como presidente, muita coisa tem acontecido por ali. Sempre me atenho à pesquisa mineralógica, mas a arqueologia acabou ocupando um espacinho no meu dia a dia. E que coisa legal!!! Ali tem de tudo. A biologia sempre fez parte da minha vida e de uns anos para cá tenho observado que muita coisa está acontecendo no lago de Furnas. A quantidade de espécies exóticas é digna de nota e fatalmente dilapidará a biodiversidade local, estipulando um novo equilíbrio. Dentre elas, temos camarões gigantes da Malásia, mexilhão dourado, caranguejos de água doce, tucunarés e outras coisas mais. Temo que peixes grandiosos como os dourados fiquem em perigo, se já não estão. 

A malacologia1 é uma ciência que sempre me atraiu. Fiz cursos na área, inclusive de cozinha francesa (que frescura). Possuo um raro dicionário conquílio malacológico autografado pelo bom e saudoso amigo Prof. Dr. Maury Oliveira, uma das maiores autoridades do mundo nesta área e docente da Universidade Federal de Juiz de Fora. Munido de algum conhecimento nesta área, tenho acompanhado a evolução de um desastre ecológico que acontece todos os anos naquelas águas. Com o rebaixamento das mesmas, milhões de moluscos bivalves que vivem no fundo lodoso acabam por perecer em lenta agonia. As conchas de alguns deles atingem tamanhos consideráveis, chegando bem próximo ao tamanho de uma mão. Alguns deles possuem pérolas sem valor comercial. Meu filho encontrou um deles com uma pérola aderida na concha. Estive em Cunhas e andei por toda aquela vastidão serpenteada pelo Pouso Alegre. Onde havia água, agora se pode andar sem problemas. Que tristeza! Milhares de conchas de duas espécies distintas se espalhavam pelo chão. As valvas abertas, seus donos mortos. São saborosos, mas gostaria de aproveitar para aconselhar as pessoas que quiserem comer alguns: Devem ser coletados no barro, lavados, colocados em um grande recipiente com água para que eliminem areia e pequenas partículas que filtram na água para se alimentarem. Este processo leva cerca de dois dias. Depois devem ser fervidos e tirados das conchas, temperados e refogados com arroz e outras receitas. Jamais devem ser ingeridos crus, para se evitar parasitoses e doenças. Cozinhei alguns semanas atrás. Muito bom. Ah, não se preocupem. Eles se reproduzem em progressão geométrica e logo conseguiram recuperar as perdas que sofreram.