Opinião: Embromation

Anísio Cláudio Rios Fonseca (de Formiga/MG)

Opinião: Embromation
Anísio Cláudio Rios Fonseca é professor pesquisador do Unifor-MG e coordenador do laboratório de mineralogia




Um grande amigo, falecido precocemente, sempre comentava numa rodinha de amigos sobre as condições peripopédicas da vida cotidiana. Ótimo letrista, entre uma canção e outra destilava de quando em vez este e outros termos estapafúrdios para comentar alguma história esquisita ou hilária. Isso me remetia aos princípios do famoso embromation, hoje ciência moderna que explica como você “rodeia toco” ao tentar explicar algo que não sabe o que é, ou mesmo remete ao seu inquisidor a própria pergunta elaborada por ele, maquiada de observações inteligentes e bem humoradas sem muita relevância para a questão. 

Sempre digo para os meus alunos que a arte de bem explicar o que não se sabe pode ser quase tão poderosa quanto o saber do que se trata. Explico; O saber é obrigação do profissional, mas no aperto os termos bem aplicados, conhecimento da língua portuguesa e, acima de tudo, clareza de ideias, podem vir a ser muito úteis na vida profissional. O sujeito articulado pode se dar muito bem em diversas situações, como por exemplo em uma entrevista para trabalho: O entrevistador pergunta- o que é este objeto aqui? O indivíduo não faz a menor ideia do que seja, mas não pode deixar sem resposta porque senão será desclassificado. Partindo da lógica de que o objeto é relevante na função que deseja desempenhar (lógico) e da observação científica pode responder: Embora admita não estar preparado para uma resposta mais elaborada (não mentiu), esta estrutura de material sintético, quiçá um polímero, aparenta ter uma utilização em algum equipamento, embora não descarte a possibilidade de ser ela o próprio equipamento (pode ser verdade). Dada sua pequena massa e aparente ausência de complexidade (atributos óbvios), admite a inferência de que possa ser componente de alguma estrutura maior, possivelmente para aferição de algum dado. A presença de cavidades poliédricas corrobora a suposição de possíveis encaixes (e por aí vai). Em casos semelhantes, seres vivos serão chamados de organismos, fragmentos de amostras, etc.

Isto não tem nenhuma conotação de dolo, mas é um mecanismo de defesa, uma maneira de desviar a atenção e o assunto para alguma área anexa que o “embromador” domine e aí sim, ele dê um show e mostre o quão é capaz. O simples fato de ser articulado pode pesar muito positivamente em uma decisão e talvez seja a maior qualidade que uma empresa moderna procura em um funcionário.

Ainda vivemos num meio onde a maioria das pessoas não consegue organizar as próprias ideias e passá-las para o papel, e muito menos expressá-las corretamente. Nem falo do puro uso da língua portuguesa, código secreto que, quando dominado em parte, cerca de admiração, temor e respeito quem consegue tal façanha. Acredito que, para chegar perto deste feito, o pretendente tem que ser amante das artes como a poesia, música, pintura, dentre outras. Organizar ideias calmamente é também um ato de amor. Até para falar bobagens como meus amigos é preciso arte. A relevância? Um estudo, um treino da intelectualidade não ofensiva, algo que se faz sem lesar ninguém.

** Lembrando que o embromation só é usado por pessoas inteligentes e com alto índice de conhecimento, senão ele não cola!!!