Opinião: Memórias dos desfiles do “Seis de Junho”
Jorge Zaidam Viana de Oliveira (De Formiga/MG)

Na década de 1960 os desfiles cívicos em comemoração ao dia da Cidade das Areias Brancas, que neste ano completa 167 anos, eram magistrais. De manhazinha, lá pela cinco horas, a cidade era acordada com a alvorada da Banda São Vicente Férrer, que sob a batuta do saudoso Maestro José Eduardo Júnior, o Zeca Eduardo, enchia de som as ruas centrais, com os seus dobrados e marchas festivas.
Às oito horas, abria as comemorações o contingente garboso do Tiro de Guerra 261, com os jovens e atléticos atiradores, trajando o tradicional uniforme verde-oliva, portando seus pesados fuzis, chocando o solo com energia, ao bater os seus coturnos pretos engraxados e brilhantes, tendo à frente os vibrantes instrutores Sargentos Batista e Natal.
Seguia-se a fantástica Fanfarra Maria de Lourdes Vaz, da Escola Normal, sob a batuta do inigualável trompetista Messias Santos, carinhosamente conhecido por “Messias Mogango”. O conjunto de estudantes-músicos com suas jaquetas vermelhas de ombreiras douradas e quepes de penachos brancos, tocando clarins, escaletas e instrumentos de percussão, eletrizava a Rua Barão de Piumhi durante a sua passagem. O Ricardo Ferreira, com a sua estatura avantajada, abria a dianteira com o seu bumbo-mor. No tarol, o Sérgio “Biju” era impecável. Caixas e surdos eram executados pelos demais componentes com entusiasmo juvenil. Nos clarins, o “Evandro Acessórios” puxava as marchas com maestria. As meninas das escaletas aliavam beleza e técnica musical ao tocarem os seus teclados. Os estudantes mais jovens ficavam com os pífanos, instrumentos leves e de execução mais fácil que os demais. Dona Sônia de Freitas, a inesquecível diretora da Escola, não media esforços para garantir o sucesso da fanfarra. Muitas pessoas são testemunhas de que ela chegava a custear pessoalmente despesas com uniformes, instrumental e acessórios para que as apresentações fossem perfeitas. E eram.
O Colégio Santa Terezinha, que à época era uma escola destinada somente a estudantes do sexo feminino, não ficava atrás. As lindas alunas, com o seu uniforme de gala, enfeitavam a Barão de Piumhi, desfilando com formosura, seguindo a fanfarra composta só de mulheres. No quesito carro alegórico, o Santa Terezinha se destacava.
O Ginásio Antônio Vieira, único estabelecimento que à época possuía o curso científico, atual ensino médio, também participava com os seus alunos, majoritariamente do sexo masculino, com muita galhardia. O responsável pela condução do desfile era o entusiasmado Tenente Oscar Teixeira de Lima, uma lenda para muitas gerações de estudantes que passaram por aquele educandário.
Nessa época, as chamadas escolas primárias não participavam dos desfiles, uma lacuna que foi preenchida mais tarde, com a presença das escolas estaduais Rodolfo Almeida, Joaquim Rodarte, Abílio Machado, Tonico Leite, Aureliano Rodrigues Nunes e depois das escolas municipais.
Era comum o município convidar uma banda militar da PM e até do Exército para abrilhantar os desfiles. Naquela década houve a presença das bandas dos batalhões da PM de Bom Despacho, Lavras e Passos. A que mais compareceu foi a bom-despachense, talvez por ser a sede do Sétimo Batalhão, ao qual estava subordinado o contingente policial militar de Formiga. Do Exército, esteve presente em alguns “Seis de Junho”, a banda do 12º Regimento de Infantaria, o 12 RI.
Era oferecido aos munícipes uma atração como parte dos festejos. Em um desses “Seis de Junho”, após o desfile, o público se dirigiu ao Estádio Juca Pedro, o Campo do Formiga, onde uma equipe de paraquedistas da Brigada Aeroterrestre, hoje Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército, fez uma precisa demonstração de salto livre, tendo como alvo o centro do gramado. As arquibancadas estavam lotadas de formiguenses que assistiam com apreensão o salto, torcendo para a chegada ao solo com segurança, quando explodiam os aplausos.
Presentes ao evento o Prefeito Arnaldo Barbosa e outras autoridades municipais. Como convidado especial, o Coronel PM Carlos Augusto da Costa, então Comandante Geral da Polícia Militar de Minas Gerais, único formiguense a galgar esse posto. Também se encontrava no estádio o formiguense ausente mais presente que a cidade já conheceu, o saudoso Coronel Gilberto Freitas, que à época era Major e, através do seu prestígio junto ao Comando do Exército, conseguiu trazer a equipe de paraquedistas para a apresentação na data magna da nossa cidade.
Assim eram os desfiles do dia do aniversário da Cidade das Areias Brancas. Hoje ainda acontecem muitas homenagens a Formiga na sua data maior, com as particularidades do mundo moderno, bem diferentes de tempos idos. Mas tanto no passado quanto no presente nossa cidade sempre foi lembrada com apreço pelos formiguenses e amigos de Formiga.