Opinião: O dinheiro — a ilusão que dá as cartas
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho (de Passos/MG)

Dinheiro não tem cheiro. Já dizia o imperador romano Vespasiano ao justificar a taxação das... urinas públicas. Séculos passaram, tronos mudaram, impostos pioraram, mas a lógica segue firme como boleto de fim de mês: pouco importa de onde vem, o que interessa é se vem.
O dinheiro, essa criatura sem alma, mas com legiões de devotos. Tem gente que o trata como um deus — faz promessa, novena, jejum e até despacho. Outros o veem como um demônio: culpado por confusões, discórdias e divórcios com direito a lavação de roupa suja no grupo da família. No fim, ele é só papel... Mas que papel, minha nossa!
Serve pra comprar pão, remédio, passagem pra Paris... ou pro bairro vizinho. Vestido novo... e até aquele silêncio estratégico, quando falar custa caro demais.
Com dinheiro se constroem escolas, hospitais, catedrais. E, com a mesma naturalidade, também se financiam guerras, golpes e campanhas eleitorais de gosto duvidoso. Anjo e vilão. Santo e trambiqueiro. Salvadora ou oportunista. Depende só do bolso... e da cara de pau de quem o carrega.
Há quem jure que o dinheiro não traz felicidade. Verdade. Mas como diria um filósofo de mesa de bar: “Se não traz, pelo menos manda buscar.” Afinal, a felicidade, coitada, anda bem melhor de carro com ar-condicionado do que a pé na contramão da vida.
Ele é a mola mestra do mundo. E o mundo, convenhamos, tem dado cambalhotas dignas de final olímpica.
Com dinheiro, se faz caridade. Sem dinheiro... faz-se vaquinha online com meta inatingível e zero curtidas. Ele realiza sonhos, destrói amizades, une casais por interesse e separa famílias por causa da herança. É um cupido de gravata, com ambições imobiliárias e uma quedinha por recursos alheios.
Tem quem o venere. Tem quem o despreze — geralmente por falta de opção. Uns o escondem no colchão, outros o ostentam em joias, relógios, carrões e sorrisos tão falsos quanto nota de três reais. Mas uma coisa é certa: até os mais desapegados gostariam de meditar com mais alguns zeros na conta.
No fundo, tudo gira em torno de um número. Um dígito a mais, um zero salvador, um balanço que fecha (ou não). O dinheiro é a única ficção que move mais que a verdade. E não se iluda: até o mais puro dos sentimentos — o amor — já andou de mãos dadas com ele... pelo menos até a hora da conta do restaurante.
No fim das contas (literalmente), o dinheiro é como aquele tio excêntrico nas festas de família: ninguém entende direito o que ele faz, mas todo mundo faz questão de tê-lo por perto.
E como já cantou Martinho da Vila, sábio dos becos e dos bares:
“Sem dinheiro, pra que dinheiro? Se ela não me dá bola...
Em casa de batuqueiro, quem fala alto é a viola.”
Pois é. Entre cifrões e promissórias, talvez o que realmente valha ainda seja isso: a viola... e quem toca por amor — de paixão recolhida.