Opinião: Tiãozinho Anastácio
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho (de Passos/MG))
Volta e meia, o eterno debate sobre quem foi o melhor jogador brasileiro de todos os tempos. Pelé – não poderia ser diferente – aparece como “hors concours”. No bom português: “fora de série”. Após, talentos como Garrincha, Zico, Rivelino, Romário, Tostão, Rivaldo, Jairzinho, Ademir da Guia e, por último, os três erres: Romário, Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho.
Na galeria dos astros do esporte associado, outros futebolistas surgem para apreciação de diferentes gostos. Lembrando – conceito democrático obriga – o ranking particular deve ser guardado, resguardado e respeitado nos limites da tolerância, habilidades fundamentais de cada época, estilo e maneira de atuação.
Cá, com os meus botões, arrisco a dizer que o melhor jogador de todos os tempos que vi jogar (e bem de perto) não chegou a ser alvo de observação técnica e comentários da crônica esportiva nacional e internacional. Não ficou rico e famoso, não pisou em gramados de icônicos estádios de futebol, como não jogou em agremiações de renome. Sua figura, talvez, seja desconhecida, não só do grande público e da crônica esportiva, mas hoje dele nem mais se fale na cidade de Passos e arredores das usinas açucareiras Passos e Rio Grande, onde, em especial, exibiu seus dotes no futebol de campo.
O tempo costuma ser ingrato aos heróis do cotidiano e dos que não chegam ao topo da fama. No entanto, seu nome fica aqui registrado com as honras pelo sacrossanto estilo de futebol praticado, nos tempos em que o amor à arte suplantava os interesses econômicos, tão em moda hoje em dia.
Provindo de família humilde, de usinas açucareiras banhadas pelo Rio Grande, lembro dele jogar nos gramados de Passos e região com desempenho físico invejável. De baixa estatura, musculatura bem distribuída num corpo atlético, entendia tudo e mais alguma coisa de futebol. Ambidestro – batia bem com os dois pés, rijo como uma rocha, movimentava-se bem dentro de campo e tinha um desempenho tático acima do normal. Em suma, polivalente: defendia, armava e atacava com desenvoltura impactada num alto nível de futebol à base da garra, amor e arte. Um jogador formidável em todos os aspectos.
A velha história, talvez tenha pecado pelo excesso de humildade e serventia. Só pode. Não há outra explicação. Quem o conheceu sustenta a hipótese. Tanto é verdade, não era espalhafatoso e não se gabava do privilégio de dominar com riqueza e requintes o jogo das quatro linhas. Dizem os mais próximos, não aceitou convites para jogar em grandes times. Vai saber por quê? Passou com galhardia pelo futebol das usinas açucareiras, esportivo, uma ou outra equipe da região. Ah, mas praticava um futebol supimpa. Para as bandas de Formiga, em simples comparação, lembra Éder Lopes com a qualidade técnica de um Luizinho, ambos defenderam as cores do Clube Atlético Mineiro. Mais ou menos assim: de Luizinho, a classe; de Éder Lopes, a raça.
A última vez que o vi foi numa dessas tardes amenas, princípio de noite de um dia qualquer. Descia a Avenida da Moda, já nas proximidades do antigo Mercadão de Passos, pouco abaixo do Clube Passense de Natação. Juntamente com Dr. Luiz Mezêncio, velho companheiro de usina, fazia a tradicional corrida de rua esportiva. Quem sabe em treino preparatório para espantar maus-olhados de zagueiros do porte de Cambão, Parré, Pimpim e Osmar Roxinho.
Em rápida observação, corria feliz ao lado do amigo Luiz. Depois disso, não mais o vi. Tempo passando, contornos de vida no plano existencial se entrelaçando, soube, no tradicional ‘por ouvir dizer’, deixou-nos prematuramente. Fora exercer o sagrado direito de vida eterna em campos mais floridos e sagrados do que esportivos.
Sua bênção, Tiãozinho Anastácio, meu ídolo!