Opinião: Zé Carioca

Jorge Zaidam Viana de Oliveira (De Formiga/MG)

Opinião: Zé Carioca
Jorge Zaidam Viana de Oliveira é Professor veterano de história




O genial Walt Disney foi o criador do Pato Donald e do Michey, personagens que embalaram mundo afora as fantasias infantis de muitos, inclusive de nós brasileiros. Após visitar o Brasil, durante o período da 2ª Guerra Mundial, Disney ficou encantado com as belezas da Cidade Maravilhosa e decidiu homenageá-la com a criação de um personagem, inspirado em um papagaio. Assim nascia o Joe ou José Carioca, mais conhecido pelos brasileiros como Zé Carioca.

Naquela época, o que dominava o imaginário infanto-juvenil eram as histórias em quadrinhos. Hoje, em tempos de Internet, esses gibis são valorizados quase que só por colecionadores. No entanto, as imagens do passado, por vezes, são utilizadas em postagens nas redes sociais, com temas do momento. Recentemente foi veiculada uma dessas publicações, tendo como protagonistas justamente o famoso papagaio americano brasileiro Zé Carioca e outro filho de Disney, o rouco Pato Donald, que travam o seguinte diálogo:

Pato Donald ___ amigo, como é viver no Brasil?

Zé Carioca ___ não posso reclamar.

Pato Donald ___ então tá tudo ótimo?

Zé Carioca ___ NÃO! É que eu não posso reclamar mesmo.

O rápido bate-papo entre os dois interlocutores fictícios retrata com solar clareza, como está a liberdade de se expressar hoje em nosso país. Está dando medo. Se alguém criticar quem está no poder federal, corre sério risco de ser enquadrado como fomentador de atos antidemocráticos, se for interpretado como tal por alguma autoridade. Somente uma crítica é permitida e até incentivada: aquela dirigida ao governo que passou.

Elogiar quem hoje está à frente da direção política do país é, na prática, uma obrigação para quem não quer vir a ter problemas com a Justiça ou, para a mídia medrosa, que não quer perder a boquinha sob a forma de anúncios.

O que mais espanta é que, durante o governo que terminou no último 31 de dezembro, que foi o mais vigiado e aviltado da História do Brasil, todos os opositores a ele tiveram a liberdade de criticá-lo, achincalhá-lo e ameaçá-lo à exaustão, teve até casos de arremedos de jogos de futebol, onde a bola era um artefato de borracha com o formato idêntico à cabeça do então Presidente da República. O simulacro de crânio presidencial era chutado com furor por opositores fanáticos. Entretanto, ninguém foi preso, nenhum cidadão teve as suas contas bancárias bloqueadas nem os seus canais derrubados ou desmonetizados por manifestar sua vigorosa crítica através de ataques à administração federal dos últimos quatro anos. Hoje, com a alternância do poder, alternou-se também a liberdade, o que era democracia tornou-se o quê?

Causa-nos aflição ver nas redes sociais, cidadãos e cidadãs formiguenses incentivando que se denuncie às autoridades aqueles que se manifestam contra o governo atual. O Ministério da Justiça, à guisa de uma tupiniquim Gestapo (polícia secreta dos nazistas), criou um canal para esse tipo de denúncia.  Alguns entusiasmados delatores da Cidade das Areias Brancas chegaram a citar em grupos do Facebook o nome de quem desejam “entregar” a esse novo órgão do governo.

Eu vivi para ver irmãos da minha querida Formiga incentivando a delação dos nossos conterrâneos não por crimes cometidos, mas por não concordarem com a sua maneira de pensar e de expressar. Que pena!

jorgezaidam@hotmail.com