Pequenos pesadelos
Anísio Cláudio Rios Fonseca (de Formiga/MG)

Ultimamente andei machucando muito minhas mãos nas minhas atividades relacionadas com a mineralogia e a cutelaria. Mesmo utilizando equipamentos de segurança, em breves momentos de negligência a lei de Murphy me atingiu impiedosamente. O medo de lesar algum nervo num destes pequenos acidentes aumentou ainda mais meus cuidados. Como as grandes empresas gostam de anunciar, estou há mais de dois meses sem acidentes- nas mãos! Porém, não há como driblar todas as probabilidades; isso aprendi em minha vida. O que se pode fazer é prevenir e minimizar qualquer sinistro que possa acontecer, procurar enxergar lá na frente, como minha mãe sempre dizia, mas, mesmo assim, os escorregões acontecem. Algo para causar dores de cabeça inimagináveis não precisa ser, necessariamente, de grandes proporções. Coisas mínimas podem afetar profundamente nossas vidas. Querem um exemplo? Há alguns anos eu estava com a família na nossa fazenda. Como de costume preparei facão e enxada para dar uns “tratos culturais” em minhas árvores frutíferas. Normalmente calço meu inseparável coturno[ Bota de uso militar extremamente resistente] para tais atividades ou então calço botas de borracha, quando no período chuvoso. Neste dia fiquei com preguiça de calçar o coturno e fui com um tênis. Estava capinando quando a enxada pegou com força na cabeça de uma afiada estaca de bambu oculta sob o capim. Esta estaca era uma das muitas que havia feito para cercar mudas. Imediatamente aquela estaca atingiu o peito do meu pé, após atravessar com facilidade a língua do tênis. Doeu tanto que nem deu pra gritar. A estaca estava presa e achei que havia enganchado no tênis. Ao puxa-la, vi que estava fincada no meu pé. Praticamente não sangrou, mas a dor e o inchaço foram aumentando. De noite já estava quase insuportável. Fui ao hospital, fizeram raio-X e, após breve dúvida, não foi constatada fratura. Perguntei se não podia haver um corpo estranho no pé e disseram que não, e que doía tanto porque o impacto foi forte e atingiu uma nevrálgica região. Tomei antitetânica, antibióticos, antiinflamatórios e analgésicos. Uma semana de dor lacerante e voltei ao hospital. Nada de quererem abrir meu pé para fuçar o que me torturava. Mudaram minha medicação. Mais uma semana de dor. Muletas, gelo, salmoura e cama. O simples fato de abaixar meu pé já era insuportável e parecia que ele ia explodir. Fui arguir alunos de Engenharia quase chorando de dor, mas era necessário. Com o tempo a dor foi diminuindo e eu achei que havia me enganado com minha teoria do corpo estranho. Voltei ao esporte, mas a área do impacto da estaca ainda estava infeccionada e não cicatrizava direito. Com isso, voltei a ter certeza da presença do corpo estranho. Trinta e dois dias depois inchou muito em volta do ferimento. Incontinenti, apertei aquele ferimento até que foram expulsos dois pedaços de bambu “inexistentes” do meu pé. Pulos e pulos de alegria. Eu os coloquei em um frasco e lá estão até hoje. Ainda me pergunto como duas coisinhas tão insignificantes puderam dar tanta amolação? Contaram-me casos e mais casos parecidos, com desfecho idêntico. Para o leitor pode parecer manha, preciosismo ou mesmo algo insignificante para se escrever aqui, mas acreditem: quem presenciou meu sofrimento viu que não é! A lição que fica é que não importa o motivo que atormenta sua vida. Ele não pode ser negligenciado e deve ser atacado com toda a propriedade possível, com todos os métodos ao alcance e, mesmo contrariando a opinião da maioria, se deve tomar as providências cabíveis para que uma coisinha insignificante não se transforme num pesadelo horroroso. Confie nos seus instintos e, claro, preze a sua segurança em primeiro lugar!!!
** Tempos depois uma aranha me levou o dedinho do mesmo pé