Opinião: Um olhar que cura a alma

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho é advogado e cronista luizgfnegrinho@gmail.com

Opinião: Um olhar que  cura a alma
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho (de Passos/MG)




Um olhar pode ser mais terapêutico que mil palavras. Esta crônica é um tributo a quem cura não apenas o corpo, mas também a alma, com especial homenagem ao Dr. Reginaldo Henrique dos Santos, conceituado psiquiatra da região Centro-Oeste de Minas.

Minha mãe, com a sabedoria que só os grandes corações sabem transmitir, me ensinou algo que jamais esqueci: quando alguém se vê diante da necessidade de cuidados médicos, a primeira oração não deve ser apenas pelo doente, mas pelo médico – aquele que se fará instrumento da cura. O enfermo, em sua vulnerabilidade, precisa da ciência, da arte e da sensibilidade de quem o atende. Não basta a técnica; é preciso também compaixão.

A palavra “médico” vem do latim medicus, aquele que trata, que cuida. Mas é belo pensar que sua missão também remete a docere – ensinar – pois o verdadeiro médico não apenas cura, mas ensina o paciente a se restaurar, a se reinventar diante da dor e da doença.

É isso que me ocorre, todas as vezes em que enfrento a necessidade de um médico. Lembro-me da lição da minha mãe: orar por eles. Pedir que vejam além do corpo, que escutem os murmúrios silenciosos da alma. A medicina é uma linguagem feita de olhares, de gestos, de toques – e de uma escuta que vai além do sintoma. Um bom médico é um curador da vida, não apenas do corpo, e deve ser capaz de perceber o que está além do que se vê.

Nos dias de hoje, em que a pressa, o protocolo e os interesses da indústria impõem suas regras, é fácil esquecer o humanismo que fundamenta a verdadeira arte de curar. Nos hospitais e consultórios, onde o humano parece se perder entre exames, diagnósticos frios e prazos apertados, a medicina corre o risco de se desumanizar. Mas, como me disse um dia um sábio médico: “a saúde é um ato de generosidade.”

E é isso que tantas vezes falta: a generosidade de escutar, de sentir com o outro, de ver no paciente não apenas o corpo doente, mas o ser que sofre, que teme, que precisa ser tocado por algo além da precisão científica. Um bom médico não diagnostica apenas com os olhos, mas com o coração. Ele precisa ouvir o que não se diz, olhar para o todo – e não para uma parte isolada da pessoa.

O verdadeiro médico é aquele que, como um mestre, nos ensina a arte de viver bem. Ensina que a cura não está apenas nos medicamentos, mas na compreensão profunda do corpo e da alma que habitam o mesmo ser. Pois, como dizia Hipócrates, o grande mestre da medicina: “O médico deve ser a mão que guia o paciente na travessia da doença, mas também a luz que orienta o retorno à saúde.”

Se a medicina é ciência, ela também é arte. Arte de cuidar, de escutar, de compreender. O médico é um artesão da vida, cujas mãos moldam, muitas vezes, o destino de alguém. Por isso, mais do que nunca, é necessário orar por ele – não como simples pedido de intervenção, mas como prece pela sabedoria, pela sensibilidade, pelo amor no ato de cuidar.

Entre prescrições e diagnósticos, entre remédios e tratamentos invasivos, nunca devemos esquecer que o verdadeiro médico não é aquele que apenas resolve problemas, mas aquele que nos vê como seres inteiros – com história, emoções, medos e sonhos. A cura é sempre um ato de afeto, um encontro profundo entre quem cuida e quem é cuidado.

Assim, enquanto nos entregamos aos cuidados dos nossos médicos – esses anjos de jaleco branco – que possamos fazer nossa parte: orar por eles, para que continuem a nos guiar com o coração cheio de bondade e sabedoria. Pois, no fim, o que cura não é apenas o que se vê, mas o que se sente. E o que se sente é sempre o amor, o maior remédio para todas as dores.

Que essa verdade continue a guiar mãos generosas como as do Dr. Reginaldo Henrique dos Santos, que, no olhar e nos gestos, reparte a luz serena dos ‘santos’.