Crônica: Cerveja quente

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: Cerveja quente
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Não há dúvidas de que um dos melhores tira-gostos da cidade é do Bar do Tonho Bezerra, que fica no Campo do Vila. Todo final de tarde, uma turma da melhor qualidade passa por lá para um aperitivo e um pezinho de porco, uma rabada ou um frango ensopado.

Em uma mesa que fica logo na entrada, o pessoal do truco se reúne (lá, ninguém sabe o que é estresse, estafa ou depressão). Se não houver trabalho pesado no dia seguinte, o carteado vai até tarde.

Dentre as pessoas que dão o ar da graça no bar, há os que vão todos os dias e os que aparecem de vez em quando. Um dos que sempre que possível está por lá é o espetacular dentista e personalidade de fino trato Lamartine Ramos, o Lalá.

Como mora pertinho do campo do Vila, Lalá sempre toma uma cervejinha quando tem um tempinho. Ele chega e é só festa (quem o conhece sabe que não dá para ficar triste perto dele). Bezerra sempre comenta o quanto seu estabelecimento é bem freqüentado citando o nome de Lalá.

Era noite de sexta-feira e o truco corria animado. Na mesa, estavam o Eduardo Carvalho (o Dudu da Praça), o Carmelho da Casa Auxiliadora, o Tomatinho e o Américo. Eram mais de dez horas quando o pessoal resolveu ir embora. Bezerra e Gerson (seu fiel companheiro) começaram a limpeza. Lavaram pratos, copos e garfos, limparam e varreram o chão. Quando se preparavam para ir embora, já passava da meia-noite, aparece Lalá, que estava chegando de Varginha.

__Ô Bezerra, me dá uma cervejinha.

Meio sem graça, Bezerra deu uma olhadinha para Gerson e tentou enrolar Lamartine:

__Ô Lalá, cê chegou tarde. Acabei de colocar cerveja no refrigerador. Só tem Kaiser e tá quente.

__Que beleza! Kaiser quente é o que mais gosto. Abre uma pra mim, Gerson.

Por mais de uma hora, Lalá ficou tomado a cervejinha quente e olhando para o campo vazio. Morrendo de sono, Bezerra ficou fazendo companhia. Gerson não agüentou e foi embora.