Opinião: Festa de fim de ano da firma

Nirlei Maria Oliveira (de Campinas/SP)

Opinião: Festa de fim de ano da firma
Nirlei Maria Oliveira é formiguense, escritora e bibliotecária




Ouço a repetitiva trilha sonora ao fundo. Jingle bells, jingle bells, jingle bells, jingle bells. Por onde ando, deparo com vendedores aos gritos com as eternas promoções de fim de ano. Difícil resistir às tentações. Na rua de comércio popular, vários Papais-noéis cansados, suados e com seus sorrisos forçados segurando crianças felizes e indóceis. Chego à conclusão que a vida não é fácil nem para o Papai Noel, imagino para os simples mortais.

Nesta época, me preparo emocionalmente e fisicamente para participar da festa da firma. No final de novembro começam as discussões sobre onde será a festa. Qual será o cardápio para agradar o paladar da turma. Depois de uns quinze dias de muitas discussões e alguns bate-bocas, tudo se resolve com alguma dignidade.

O local escolhido é a chácara do amigo do chefe que cobra baratinho e tem piscina. O cardápio é o de sempre. Churrasco que agrada à maioria. Os veganos ficam com as saladas e as frutas.

Dezembro chega. Agora a lista para adesão à festa começa a circular. Pressão insana dos colegas, chefia e diretoria. É a hora de mostrar quem veste a camisa da empresa, não é mesmo? Afinal, somos unidos! Vai participar, né? Não vi o seu nome na lista. O meu departamento vai inteiro e o seu? Precisa mostrar união de todos, não é? Vai levar a família? Leva os pets e a sogra também! Não tem como fugir.

Uma semana antes da festa, quem teve coragem de dizer que não vai comparecer, inventou um compromisso ou resolveu adoecer, vira um pária! São olhados de banda! Caem no limbo. Apelidados pelas costas de “elos quebrados”, “os que roem a corda", “os que não dão o sangue pela firma.”

O dia da festa! Começa com que roupa eu vou?  Perua, piriguete, santa, ou uniforme da firma? Dá na mesma. Tem de tudo um pouco. São observados os mínimos detalhes, com lupa e comentários à exaustão. Olha, a fulana está fora de forma, hein? Que cabelo é aquele, gente? Nossa, que roupa horrorosa é aquela? A roupa da mulher do chefe é a mesma do ano passado. Que vergonha! A namorada do gerente de vendas era amante do Silva da contabilidade. O mundo tá perdido mesmo.

Quase fim de festa, hora de fazer o balanço dos estragos. O discurso do diretor caindo de trêbado e abraçado com a secretária-amante-teúda-e-manteúda!  A esposa e os filhos roxos de vergonha saem apressados. O gerente urinando no copo de cerveja depois de não achar a porta do banheiro. As meninas do RH falando detalhes da vida alheia. Aquele colega inconveniente, que tanto faz se sóbrio ou bêbado, sai abraçando e apertando quem encontra pela frente. As paqueras com os maridos das colegas rolando na micro piscina. 

E colegas bêbados (todo ano a mesma coisa) contando detalhes da vida privada e alheia. Falam o que não devem. Revelam segredos impróprios. No ar paira um incômodo angustiante. Alguém pede uma música sertaneja para tentar salvar a situação.

Bom mesmo é ver aquelas senhoras sérias, quase santas, que depois de umas caipirinhas resolvem dançar na boquinha da garrafa e convidam o chefe.

Ninguém aguenta tantas emoções em um único dia.  Hora de ir embora. Uns saem carregados, às gargalhadas. Outros cambaleando, mas unidos. Fotos e mais fotos no Instagram. Todos abraçados e felizes! Tudo perfeito! Quem não foi, fica com inveja, eu sei!

Não fique triste, ano que vem tem mais!