Opinião: Hasta la vista, baby!

Nirlei Maria Oliveira (de Campinas/SP)

Opinião: Hasta la vista, baby!
Nirlei Maria Oliveira é formiguense, escritora e bibliotecária




“Amanhã será um novo dia /Certamente eu vou ser mais feliz”. Caetano Veloso sabe o que diz! Desfazer um casamento, namoro, amizade ou qualquer relação que envolva afetos, não é algo fácil e deveria haver protocolos, livros com instruções precisas sobre os ritos do adeus. Tanto livro de autoajuda inútil – disponível nas prateleiras das livrarias e vendendo orientações vagas para ser famoso e rico. 

Das frases prontas disponíveis nas bocas de quem diz adeus: – “até mais ver”, “vai para o diabo que o carregue” – às mais inverossímeis como “vou comprar um cigarro na padaria”, até as mais inacreditáveis: “já deu” e “fui!" deveriam existir boas práticas de epílogos.

Não é defeito! É crime de mau gosto utilizar expressões repetidas no término da relação. Elegância, bom vocabulário e empatia pesam nessas horas. Mas há uma preferência pelo bom e velho clichê: “Acho que você merece coisa melhor” “O problema é comigo e não com você” “Nós temos uma incompatibilidade de gênios” “Não quero que você abra mão da sua vida por minha causa” “A gente precisa dar um tempo”... 

Quem utiliza essas frases deveria, no mínimo, ser preso pelo resto da vida por falta de repertório.

É óbvio que a maioria das pessoas tiveram um dia de pé na bunda. Mas não precisava ser algo tão raso. Gosto de pensar que qualquer fechamento tem de ter emoção e graça! Não concebo friezas, metáforas gastas ou grosserias e maledicências. Mas, dou a mão à palmatória. Divirto-me com alguns desfechos como se estivesse assistindo a cena clássica de novela das oito-nove. 

O namorado da adolescência não queria o término do namoro, anunciado por mim na véspera. Fez uma serenata. Ouvi e analisei. Ele e os amigos estavam bêbados, cantavam muito mal e erraram a letra. Não dava para reatar. Mantive minha decisão de fim de linha. 

E eu já tive a minha porção de choro e lamentação. Uma cena shakespeariana. Às vezes, é um luto doloroso para uma das partes. Para outros, é abrir a porteira para a liberdade, cair no mundo de meu deus e sair pegando quem vier pela frente – “caiu na rede, é peixe!”.

A nova moda do momento são os casais de celebridades anunciando por intermédio de assessoria de imprensa, com uma nota educada… e falsa, que “se amam, mas cada um vai seguir seu caminho”. 

Eu fico imaginando os bastidores. O ódio escorrendo e todo o dinheiro envolvido numa silenciosa disputa em que os gladiadores são os homens de terno, também conhecidos como advogados. Em salas climatizadas, sentam-se para travar suas guerras. Enquanto isso, o mundo assiste a uma conveniente comédia inglesa.  

Mas o que não dá para engolir é ficar ressentida! A vida é curta para guardar potes de mágoas ou ficar perseguindo o infeliz que não quer mais te ver, nem pintada de ouro. 

Vida que segue e fila que anda em busca de novos amores e que seja amor à primeira vista, afinal, se é para ser clichê o fim, que o começo respeite o roteiro.