Opinião: Formiga curiosa (e engraçada)

Lúcia Helena Fiúza (de Palmas-TO)

Opinião: Formiga curiosa (e engraçada)
Lúcia Helena Fiúza é professora aposentada




Muita coisa curiosa que acontecia nas décadas de 1970 e 1980 em Formiga, hoje, faz parte de nossa memória saudável e divertida.

         Noutro dia, por um grupo de família do WhatsApp, eu e meus irmãos, Cecília e Toninho Maria, estávamos lembrando de alguns fatos que eram constantemente narrados em rodas de amigos. Na época, eram motivos de comentários de perplexidade e espanto, hoje são só lembranças saudáveis que servem para refrescar a alma.

         Falávamos que nossa cidade foi a primeira a ter um DJ, isso mesmo, Formiga foi pioneira em Minas Gerais em sons mecânicos. Quem movimentava os toca-discos era o Senhor Mauro da Tabacaria. Em seu estabelecimento que ficava em frente ao Banco do Comércio e Indústria, que depois virou Banco Nacional, na Rua Bernardes de Faria, ele vendia cigarros e ingressos para uma espécie de discoteca que acontecia nos finais de semana no ginásio poliesportivo da Praça de Esportes. O evento era um sucesso, lotava sempre.

         Também não dá para esquecer que para acalmar e dar segurança aos pais das mocinhas associadas, o Clube Centenário mandou fazer uma boate em seu segundo andar na sede social que existia na Praça Ferreira Pires. Para entrar tinha de ter feito 18 anos porque seria “impróprio para menores”. O que não acontecia em becos e vielas escuras, acontecia na boate do clube. Ótimo, não?

         No Country, a questão era na praia. Lá, havia vestiários e banheiros individuais com portas pintadas de cinza que dividiam com a Lagoa do Doutor Ari. O pessoal que não era sócio fez um buraco na parede para ver as moças da sociedade trocando de roupa e tomando banho. Toninho Maria ia todo domingo para o Doutor Ari e só depois ficamos sabendo o motivo de sua assiduidade insistente.

         Já a Capricho era uma boate comportada que havia na Rua Pio XII, ao lado do restaurante Capri (daí o nome Capricho), esquina com a Rua dos Viajantes, logo em frente a Companhia Telefônica, que era na outra esquina. Foi o primeiro lugar a ter luz negra em Formiga. Luz negra era uma iluminação que deixava o rosto escuro e os dentes brilhando de um roxo meio esbranquiçado, era um sucesso, muita gente queria conhecer. O problema foi que uma vez, a luz queimou (só tinha uma). Então, compraram uma lâmpada incandescente de 100 velas na Loja do Mirabeau. Cobriram com papel crepom azul escuro da Papelaria do Zé Branco e o lugar só não pegou fogo porque o garçom Baltazar acudiu para apagar.

         Folhinha Mariana era tipo um calendário que trazia datas, piadas e a previsão do tempo. Era feita para pregar na parede da cozinha, quando a gente ia sair, a mamãe consultava para saber se era para levar blusa e sombrinha. Era um verdadeiro oráculo impresso em papel jornal que vinha da cidade histórica. Papai, Seu Coló, buscava lá na Drogaria Santa Maria. Uma vez, o Rubinho, amigo nosso que trabalhava lá, entregou uma de um ano antes. Papai reclamou e Rubinho disse que tinha de acabar com as antigas primeiro para depois distribuir as novas. Só em Formiga mesmo.

         E a vez que espalharam na cidade que o Seu Delvo Farmacêutico, que tinha uma drogaria ao lado da Tabacaria do Mauro, tinha contratado uma “aplicadora de injeção” que tinha mal de parkinson. A gozação na cidade era que quem entrava lá saia com o braço igual uma peneira. Que maldade!

         Mas o mais engraçado foi a maior representação de machismo da qual tivemos notícias. Quem contou para papai foi um de seus grandes e queridos amigos, o Seu Enésimo Lima da Ótica Isis.

         Seu Eunézimo era um talentoso pianista e usava sua ótica para vender, além de lentes e armações, pianos. Chegou a ganhar prêmios nacionais como representante de marcas famosas. Diziam que quando vinham clientes de longe, ele sentava e dava um show. Na esperança de tocar igual, a pessoa acabava comprando o piano.

         Um dia, papai descia da Estação Ferroviária quando, às gargalhas, Seu Eunézimo o chamou para narrar uma ótima. Ele contou que um conhecido empresário dono de uma loja de roupas entrou na Ótica Isis para comprar um piano para suas filhas e passou na Casa Três Irmãos para levar uma máquina de datilografia para seu filho. Piano para as meninas e máquina de escrever para o menino porque “era tudo a mesma coisa”.

         Eu falo pra Deus e todo mundo em todo lugar que vou de que não tenho a menor dúvida: quem nasceu e viveu em Formiga tem muito mais histórias para contar.