Poesia: Devassa
Cláudio Guadalupe (de Divinópolis)
Faça, faça (mesmo)
a devassa da devassa
- quem sabotou
a pátria nessa trapaça?
Que se reconte a facada que em nossa alma vingou
Que se desate a sorte que nos ardeu
Que se ache a verdade no perdão que se deu
Que seja divina a arte que deveras nos encontrou
Que se reinvente a floresta que estupidamente queimou
Que se reescreva o livro que ninguém leu
Que a febre cesse no peito do amigo que se perdeu
Que seja a boa música que em nosso ouvido se aportou
Cante, cante (mesmo)
a devassa da devassa
- quem nos desvirtuou
da nossa linda chance?
Que o seu teu ódio seja desterrado do chão que o plantou
Que se reviva a festa que em nós se arrefeceu
Que se ilumine em estrelas a sombra que a noite desceu
Que seja a dança o que em nosso corpo aflorou
Que se acabe o delírio febril que nos consumou
Que seja reposta a infância que se vendeu
Que seja no amor múltiplo a sanha que te venceu
E se avermelha a pintura no muro que nos separou
Rompa, rompa (mesmo)
a devassa da devassa
- quem nos tomou
a alegria negra da raça?
Que a africana paz que no atual quilombo se medrou
Seja sentida no canto preto que nos amanheceu
Que se solte ao ar a capoeira que antes nos prendeu
Que seja escrito o verso mais livre que já se poemou
Devassa, devassa
Livre a página da
história que já virou!