Opinião: Formiga jurídica

Lúcia Helena Fiúza (de Palmas/TO)

Opinião: Formiga jurídica
Lúcia Helena Fiúza é professora aposentada




Nem sempre a gente segue o futuro que pensaram pra nós. A vida tem as suas possibilidades e as decisões acabam não cumprindo a sina e o destino que nos oferecem, muitas vezes, na bandeja.

Acho que o grande sonho que papai, Seu Coló, quis para mim e para meus irmãos, Cecília e Toninho Maria, tinha a ver com questões jurídicas, só que nenhum de nós lhe deu o prazer… coisas das trajetórias de cada um. Falo isso porque ele não se cansava de encher de elogios a inteligência de algumas personalidades que fizeram parte da história do Direito em Formiga.

Seu amigo de anos e anos foi o advogado José Emmanuel Rodarte, o Doutor Juca. Papai contava que ele era um genial professor do Ginásio Antônio Vieira e dono de uma brilhante carreira. Morava em um casarão logo acima do Fórum, onde mantinha seu escritório.

Outro que era motivo de encher a boca para falar era o grande amigo e juiz de Direito Walter Veado, que era das pessoas mais honestas que papai conheceu. Lembro-me que quando o magistrado foi promovido de Formiga para Belo Horizonte, ele foi para uma vara que estava julgando a queda do viaduto da Gameleira na capital, várias pessoas morreram na tragédia. Certa feita, Doutor Walter deu uma entrevista sobre o processo para o jornal noturno da TV Itacolomi, que era da Rede Tupi do jornalista Assis Chateaubriand. Cheio de orgulho, papai amontoou a sala de moradores da Rua Nova para assistir.

Outra personalidade que servia de exemplo era o promotor de Justiça Arnaldo de Senna. Era um senhor sério, austero e de cara fechada para toda a cidade, mas muito divertido para papai. Toda vez o Doutor Arnaldo tinha uma piada nova ele contava primeiro para nosso pai, se ele risse, o promotor espalhava no Fórum.

Lembro-me também de nomes de advogados que tinham posição de destaque nos discursos que ouvíamos. Papai achava muito capacitado o Doutor Gonçalo Augusto de Souza, que ele, não sei porque, chamava de Ziza, e o simpático e astuto, apesar de compenetrado Doutor Fernando Gonzaga de Barros. Esse ficou amigo de toda a família por ter sido contratado para uma demanda que tivemos com a Rede Ferroviária Federal. Lembro-me de que era uma pessoa muito engraçada e cheia de histórias.

Quando era dia de Júri, era um verdadeiro acontecimento. Papai saía mais cedo de casa para poder sentar nos bancos da frente do salão do prédio na Rua Silviano Brandão. Um acontecimento, um

Seu Coló era um grande admirador da firmeza, da performance e da argumentação de um jovem advogado que se destacou no início dos anos 1980: José Mosar Arantes. “É brilhante!, É brilhante!”, vibrava Seu Coló quando chegava em casa (segredo nosso: ele quase sempre torcia para o réu). 

Doutor Ovídio de Faria era outro. Era um mestre com uma biblioteca invejável, morava em frente à Prefeitura. Ele contava que tinha uma paixão que nunca lhe rendeu honorários, o Direito Eleitoral, mesmo assim, estava sempre envolvido em campanhas. Uma vez, contou lá em casa, que não participaria mais de júris por causa da saúde debilitada, estava tendo constantes e tristes crises epilépticas.

Por essas coisas do destino que ninguém explica, nenhum de nós, filhos de Seu Coló, se enveredou pela área jurídica. Acabamos indo para o magistério, mas todos nós tivemos alunos que hoje são advogados de renome, o que muito nos orgulha.