Poesia: Fado Brasileiro
Cláudio Guadalupe (de Divinópolis/MG)
Fado, falo, fado brasileiro
Que na minh'alma portuguesa
Ecoa
Na minha flauta guarani
Entoa
Que no negro banto quilombola
Caçoa
Sou o Pessoa, sou o Castro
Sou o poeta Drummond mineiro
E só sei cantar
Lúcido ou triste a embalar
Fado, fardo, fado ligeiro
Que nos ombros portugueses
Me pesa
Que no tronco cativeiro
Aleija
E na guarani lança altiva
Me arremessa
Sou o Camões, sou o Cruz e Souza
Sou do Gullhar, poema inteiro
E só sei duvidar
Ébrio ou em febril mal estar
Fado, fado, enfado
Que o dia de lida na cidade
Me doa
Que a amanhecida esperança negra
Me perdoa
Que a taba guerreira em festa
Apregoa
Sou o Bocage, sou o Buarque
Sou o Moacyr na disputa igualitária
E que junto a eles sei cantar
Contra a morte e o capital avatar
Fado, fado, fado tropical
Que numa caravela sem mar
Me atravessa
Que no navio negreiro sem prumo
Me degenera
Que na reza cristã imposta
Me alquebra
Sou o Castelo, sou a Cecília
Sou o Whitman perscrutrante
E só sei amar amando
Deleitado de prazer ou em derradeiro lutar.