Crônica: TEM GENTE!
AC de Paula (de São Paulo)
Tem gente que vive na aba do outro, na cola da gente, no ralo do esgoto, mas conta vantagem, com a cara e a coragem, é o esfarrapado falando do roto.
Tem gente que vive chorando as pitangas, nas trevas nas sombras, de um sonho perdido. Caminha sem volta, sem gana e sem grana, a ninguém engana, é caso perdido.
Tem gente que perde e canta vitória, que não tem dinheiro, mas conta história, promete que volta e se perde no além, sem honra, sem glória e sem vaidade, a bem da verdade, sem nada ou ninguém.
Tem gente perdida em lugares distantes, amados amantes e desiludidos, vagando a esmo, meros figurantes, no mundo dos sonhos estão inseridos.
Tem gente que cuida da vida alheia, e se prende no visgo da teia que cria, que traz a saudade bem presa no laço, mas perde o compasso, e caminha vazia.
Tem gente que ensaia sorriso no espelho, que vende conselho a torto e a direita, que jura e promete, vai ser diferente, que jura mudança, de amanhã pra frente.
Tem gente que insiste, resiste, e persiste, que não deixa furo, que não dá mancada, que bate no peito, que chama pro abraço, e dá cheque mate em carta marcada.
Tem gente que vacila e não parte pro corre, não planta, não colhe o que está por vir, e vive cansado e espera sentado, mais cedo ou mais tarde, a fruta cair.
Tem gente que cuida da vida alheia, maldade semeia, casada, solteira, ou pouco importa, esquece até mesmo da própria existência, da incoerência da sua vida torta.
Tem gente que apenas reclama da vida, não sabe da lida nem da caminhada, e culpa o destino, a sina, a sorte, perdida, sem rumo, sem nada, sem norte.
Tem gente que pensa que a vida perfeita, só tem alegrias e nunca percalços, não sabe que a vida é vitral, é mosaico, de idas e voltas, de altos e baixos.