Opinião: MOTIVO

AC de Paula (de São Paulo)

Opinião: MOTIVO
AC de Paula é dramaturgo, poeta e compositor




Não tenho a mínima ideia do real motivo, mas arrisco dizer que o cara lá de cima deve ter planos para talvez uma nova criação para este ano, por isso levou os melhores no ano passado. Eleita pela BBC de Londres como A Voz do Milênio, Elza Soares, aos 91 anos, partiu para o andar de cima, era o dia 20 de janeiro de 2022. Antes, no dia 10, aos 61 anos, e no dia 16, aos 64 anos, respectivamente, haviam partido o humorista Batoré e a atriz Françoise Fourton. Fevereiro também não passou imune, Arnaldo Jabor cineasta, roteirista, diretor de cinema e TV, produtor cinematográfico, dramaturgo, crítico, jornalista e escritor brasileiro, partiu no dia 15, no dia 08, o fotojornalista Orlando Brito, 72 anos, já havia partido.

E nas águas de março que inundaram o verão, Miriam Mirah que fora vocalista do Grupo Raíces de América e do Grupo Tarancón, partiu no dia 22 e sempre será lembrada pela magistral interpretação da “MIRA IRA”, música composta em sua homenagem pelo grande Lula Barbosa em parceria com Vanderlei de Castro. A atriz Djenane Machado, filha do “rei da noite” Carlos Machado, zarparia no dia seguinte. No dia 29 do mesmo mês de março, o artista plástico Elifas Andreato carimbava seu passaporte para as plagas celestiais. Era o dia da mentira, “mas eu vi chover eu vi relampear” e Ruy Mauriti partiu de verdade em pleno dia primeiro de abril, meu amigo na rede social, me resta a lembrança das suas muitas fotos protagonizadas pelos amigos caninos. A “dama da literatura brasileira” nos deixaria no dia 19, Lygia Fagundes Telles era considerada por muitos como “a maior escritora brasileira”, no dia 30 nos deixava Altieris Barbiero, locutor, cantor, radio-ator e radialista brasileiro.

No dia 10 de maio partiu o jornalista Alberico de Souza Cruz, no dia 19 foi a vez do cantor e compositor César Costa Filho. O mineiro de Monte Santo de Minas, ator, diretor, cantor, dublador e produtor Milton Gonçalves nos deixou no dia 30 aos 89 anos de idade. Rubens Caribé ator e bailarino que se notabilizou pela montagem do espetáculo Hair, despediu-se da vida no dia 05 de junho. Poxa, como é triste, depois de 12 de junho não encontrar mais o meu amigo Gilson de Souza no estúdio do nosso maestro e amigo D’Carlos. E como aquilo que já não está bom sempre tem possibilidade de ficar pior ainda, Paulo Diniz que “queria voltar pra Bahia” embarcou no dia 22 de junho para o além. No mesmo dia, aos 82 anos, partiram também a atriz Marilu Bueno e a jornalista, escritora e modelo brasileira, e irmã da musa da bossa nova, Danuza Leão. O cantor Roberto Luna, 93 anos, que havia despontado para o sucesso na era dos boleros, no dia 26, carimbava a sua passagem.

Henrique Morelenbaum, músico, maestro e professor brasileiro de origem polonesa, que ocupou a cadeira de nº 16 da Academia Brasileira de Música, e que por duas ocasiões dirigiu o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, embarcou no dia 22 de julho. O gênio do humor, apresentador de televisão, escritor, dramaturgo, diretor teatral, ator, músico e artista plástico Jô Soares, no auge de seus 84 anos, foi fazer graça para as estrelas no dia 05 de agosto. No dia 07, o balanço do samba rock saiu do compasso, Marco Mattoli, cantor, compositor e violonista do Clube do Balanço, disse adeus.

O maestro Diogo Pacheco, no dia 17, foi reger música erudita nas nuvens. Claudia Jimenez, atriz, humorista, dubladora e roteirista, três dias depois deixava a TV brasileira menos alegre. Ora direis, seriam os deuses astronautas? Não sei se me espanta o cara lá de cima ter puxado a ficha de tanta gente maravilhosa, ou o fato de tanta gente maravilhosa e talentosa estar vivendo entre nós.

Mas chegaram as manhãs, tardes, noites e madrugadas de setembro, e no dia 13 partiu Silvio Lancelloti, jornalista, arquiteto, apresentador de televisão, gastrônomo e escritor. O Galinho de Ouro Éder Jofre, orgulho do boxe brasileiro, beijou a lona da vida no dia 02 de outubro. Os novos e os antigos baianos, aliás o Brasil inteiro, chorou a morte de Luiz Galvão, amigo de infância de João Gilberto e parceiro de Moraes Moreira na música “Preta Pretinha” e outros tantos sucessos, que partiu no dia 22. Claudio Roberto, parceiro de Raul Seixas em "Maluco Beleza", "O Dia em que a Terra Parou", "Aluga-se", "Rock das 'Aranha'" e "Cowboy Fora da Lei “, embarcou no dia 29 do mesmo mês.

Em novembro, no dia 04, Paulo Jobim, cantor, guitarrista, flautista, arranjador, arquiteto e filho do maestro Tom Jobim nos disse adeus. No dia 09, a morte calou a voz de Gal Costa, eleita pela revista Rolling Stone Brasil como a sétima maior voz da música brasileira. No mesmo dia o Senhor Brasil, apresentador, ator, cantor, escritor e compositor Rolando Boldrin também partia. No dia 16, Isabel Salgado, ex-jogadora da seleção brasileira e treinadora de voleibol partia para integrar a equipe celestial. O “Gigante Gentil” Erasmo Carlos, cantor, compositor, ator, músico, multi-instrumentista, escritor brasileiro e um dos pioneiros do rock no Brasil, embarcou no dia 22, mas continuará para todo o sempre a ser “O Tremendão”.

Leno, cantor, compositor e guitarrista potiguar que integrou a banda “Renato e Seus Blue Caps” na época da Jovem Guarda, o primeiro show que assisti na vida, no Teatro Record na Rua da Consolação nos idos dos anos sessenta, cantou pra subir no dia 08 de dezembro. Nélida Piñón, escritora reconhecida internacionalmente e integrante da Academia Brasileira de Letras, entidade da qual já foi presidente, nos deixou no dia 17. No dia 21 dissemos adeus ao ator, diretor, tradutor Pedro Paulo Rangel. E no dia 29 de dezembro de 2022, o mundo inteiro chorou a perda do Rei Pelé, o cara que encantou o mundo, ao ponto de ser eleito Jogador do Século pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS), e foi um dos dois vencedores conjuntos do prêmio Melhor Jogador do Século da FIFA, e também foi eleito Atleta do Século pelo Comitê Olímpico Internacional.

Ele foi, é, e sempre será insuperável, Deus com certeza jogou a forma fora, não se daria ao luxo de criar outro gênio do futebol como ele, que foi capaz de parar uma guerra na Nigéria. Suas jogadas e dribles tinham a plasticidade de gênio das artes e a imagem da comemoração socando o ar, era um poema brasileiro que encantou o mundo.

De volta ao início, não tenho a mínima ideia do real motivo, mas arrisco dizer que o cara lá de cima deve ter planos para uma nova criação neste 2023, por isso levou os melhores. Será que ele perdeu a fórmula?