Segundo Advento do Cristo

CEARC - Centro Espírita Anézio Ribeiro de Camargos

Segundo Advento do Cristo




Disse então Jesus a seus discípulos: “Se algum quiser vir nas minhas pegadas, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me - porquanto, aquele que quiser salvar a sua vida a perderá e aquele que perder a vida por amor de mim a encontrará de novo.

De que serviria a um homem ganhar o mundo inteiro e perder a alma? Ou por que preço poderá o homem comprar sua alma, depois de a ter perdido? - porque, o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com seus anjos, e então dará a cada um segundo as suas obras. Digo-vos em verdade, que alguns daqueles que aqui se encontram não sofrerão a morte, sem que tenham visto vir o Filho do Homem no seu reino.” (MT, 16:24a28.)

Jesus anuncia o seu segundo Advento, mas não diz que voltará à Terra com um corpo carnal, nem que personificará o consolador. Apresenta-se como tendo de vir em Espírito, na glória de seu Pai, a julgar o mérito e o demérito e dar a cada um segundo as suas obras, quando os tempos forem chegados.  Estás palavras: “Alguns há dos que aqui estão que não sofrerão a morte sem terem visto vir o Filho do Homem no seu reinado” parecem encerrar uma contradição, pois é incontestável que Ele não veio em vida de nenhum daqueles que está em presentes. Jesus, entretanto, não podia enganar-se numa previsão daquela natureza e, sobretudo, com relação a uma coisa contemporânea e que lhe dizia pessoalmente respeito. Há, primeiro, que indagar se suas foram sempre reproduzidas fielmente. É de duvidar-se, desde que se considere que Ele nada escreveu; que elas só foram registradas depois de sua morte; que o mesmo discurso cada evangelista o exarou termos diferentes, o que constitui prova evidente de que as expressões de que eles se serviram não são textualmente as de que se serviu Jesus. Além disso, é provável que o sentido tenha sofrido alterações ao passar pelas traduções sucessivas.

Por outro lado, é indubitável que, se Jesus houvesse dito tudo o que pudera dizer, Ele se teria expressado sobre todas as coisas de modo claro e preciso, sem dar lugar a qualquer equívoco, conforme o fez com relação aos princípios de moral, ao passo que foi obrigado a velar o seu pensamento acerca dos assuntos que não julgou conveniente aprofundar. Persuadidos de que a geração de que faziam parte testemunharia o que Ele anunciava, os discípulos foram levados a interpretar o pensamento de Jesus de acordo com aquela ideia. Assim é que redigiram do ponto de vista do presente o que o Mestre disseram, fazendo-o de maneira mais absoluta do que Ele próprio o teria feito. Seja como for, o fato é que as coisas não se passaram como eles o superam.

A grande e importante lei da reencarnação foi um dos pontos capitais que Jesus não pôde desenvolver, porque os homens do seu tempo não se achavam suficientemente preparados para ideias dessa ordem e para suas consequências. Contudo, assentou o princípio da referida lei, como o fez relativamente a tudo mais. Estudada e posta em evidência nos dias atuais pelo Espiritismo, a lei da reencarnação constitui a chave para o entendimento de muitas passagens do Evangelho que, sem ela, parecem verdadeiros contrassensos.

É por meio dessa lei que se encontra a explicação racional das palavras acima, admitidas que sejam como textuais. Uma vez que elas não podem ser aplicadas às pessoas dos apóstolos, é evidente que se referem ao futuro reinado do Cristo, isto é, ao tempo em que a sua doutrina, mais bem compreendida, for lei universal. Dizendo que alguns dos ali presentes na ocasião veriam o seu advento, Ele forçosamente se referia aos que estarão vivos de novo nessa época. Os judeus, porém, imaginava que lhes seria dado ver tudo o que Jesus anunciava e tomavam ao pé da letra suas frases alegóricas.

Aliás, algumas de suas predições se realizaram no devido tempo, tais como a ruína de Jerusalém, as desgraças que se lhe seguiram e a dispersão dos judeus. Sua visão, porém, se projetava muito mais longe, de sorte que, quando falava do presente, sempre aludia ao futuro.

O Filho do Homem, a vir sobre nuvens, com grande majestade, cercado de seus anjos e ao som de trombetas, lhes parecia de muito maior imponência, do que a simples vinda de uma entidade investida apenas de poder moral. Por isso mesmo, os judeus, que esperavam no Messias um rei terreno, mais poderoso do que todos os outros reis, destinado a colocar-lhes a nação à frente de todas as demais e a reerguer o trono de Davi e de Salomão, não quiseram reconhecê-lo no humilde filho de um carpinteiro, sem autoridade material.

No entanto, aquele pobre proletário da Judéia se tornou o maior entre os grandes; conquistou para a sua soberania o maior número de reinos, do que os mais poderosos potentados; exclusivamente com a sua palavra e o concurso de alguns miseráveis pescadores, revolucionou o mundo e a Ele é que os judeus virão a dever sua reabilitação. Disse, pois, uma verdade, quando, respondendo a esta pergunta de Pilatos: “És rei?” respondeu: “Tu o dizes,”

Pilatos disse outra vez: então tu és rei? Jesus respondeu: Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade, todo aquele que é da verdade ouve a minha voz.

 

 

Obra: A Gênese. Autor: O Espírito da Verdade. Codificador: Allan Kardec