Crônica: Rodeio eleitoral

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: Rodeio eleitoral
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Landico conseguiu ganhar fama como “o locutor pé-quente”. Quando ele trabalha para algum político, é eleição na certa.

Há mais de 30 anos animando as manhãs formiguenses pela “Difusora-AM”, Landico sempre foi muito requisitado para participar de exposições agropecuárias e para narrar os mais importantes rodeios.

Pessoa agradável, o radialista sempre foi adepto de uma boa caipirinha. Sabe como é... noites de frio... é preciso um estimulante para o evento ficar mais animado... “Além do mais, a voz fica em cima”.

Em 1982, Landico tinha sido escalado para apresentar os comícios do então candidato a prefeito Eduardo Brás Neto Almeida. Aconteceu que a campanha eleitoral coincidiu com festas e exposições agropecuárias de todo o Oeste de Minas e o locutor foi obrigado a controlar seus horários para poder satisfazer a todas as solicitações, as dos políticos e as dos produtores rurais.

Faltava pouco para o dia da eleição, quando foi marcado um comício, o principal, na Praça Getúlio Vargas. Palanque armado, sonorização perfeita. Lá pelas sete da noite, chega Landico para conferir.

Como não havia problemas, ele resolve dar uma passadinha no Pilão, uma pizzaria muito gabaritada que existia ao lado da Casa Américo, para tomar sua tradicional caipirinha. Assim que chegou, Seu Ivone e Seu Lulu, proprietários do ambiente, foram dar as graças da casa. Mandaram caprichar na dose. Landico terminou a primeira e Seu Ivone serviu outra por conta da casa.

E a praça foi enchendo de gente. Candidatos a vereadores, cabos eleitorais, charanga. Todo mundo lá. Pouco tempo depois, chega o candidato a prefeito e seu vice, o advogado José Mosar Arantes. A festa já era grande e o comício estava para começar. Mas onde estava “o locutor pé-quente”? Só faltava ele. Todo mundo sai procurando.

Foi então que alguém comentou ter visto Landico no Pilão.

__Busca ele agora, determinou Eduardo, que já estava meio (meio?) nervoso.

__Landico, Landico... tá na hora...

O locutor, que animado com as caipirinhas tinha perdido a hora, sai correndo. O palanque era em frente à Mobilar. O locutor dá a volta em uma caminhonete estacionada defronte à Rua Quintino Bocaiúva, bate a canela no pára-choque e, mancando e morrendo de dor, sobe no palanque. Lá, José Mosar lhe entrega o microfone.

__Vai, vai, tá demorando, reclamou Eduardo.

Animadíssimo, Landico pede para a charanga para se preparar e dá início à festa:

__Vamos agora começar o emocionante RODÊÊÊIO!!!!

Quase arrancando os cabelos, Eduardo tomou o microfone de Landico e o passou para o outro locutor, Mário Murari.

Mas, no final da campanha, tudo acabou dando certo. Com o “locutor pé-quente” ao lado (mesmo que não muito sóbrio), não havia como perder. Abriram-se as urnas e Eduardo ganhou de lavada.