O frio nosso de todo ano

O frio nosso de todo ano




Julho teve início e o frio mais uma vez promete ser daqueles de gelar até a alma.

Em Formiga, há uma população em situação de rua que necessita de auxílio e de acolhimento. Há entidades filantrópicas, a maioria ligada a grupos religiosos, que fazem um trabalho extraordinário, e assistência prestativa por meio do Poder Executivo e suas secretarias que estão sempre atentas às mais diversas demandas.

Em todo ano, voluntários de coração aberto e desprendidos de vaidade fazem o que podem (e até um pouco mais) sem querer aparecer ou ver seus nomes em posição de destaque na galeria das pessoas caridosas. Como diz o hino, fazem o bem sem olhar a quem.

Em toda sociedade, há visões de mundo diferentes e sentimentos divergentes. Assim como há os sensíveis, há os da turma do nem aí, os que são cruéis e que cobram atitudes dos necessitados para que eles provem que não são “vagabundos”. Só assim terão direito à sopa quente, ao agasalho e ao cobertor.

Nesta semana, pelas redes sociais, uns “empresários bem sucedidos” comentaram que disseram a pessoas ligadas ao Centro Espírita Lázaro e à Missão Marta e Maria que elas não deveriam fazer o que fazem, que há “muita gente à toa” que não quer trabalhar porque recebe tudo de graça: “Se der um lote pra capinar, não querem”. Um deu um sonoro “KKK”.

Essa visão cruel, tacanha e primitiva muito tem a ver com o resquício dos tempos dos senhores de engenho, quando o escravizado só teria direito a um canto coberto de palha na senzala “se fizesse por onde”, se nunca se rebelasse e se aceitasse seu destino de cabeça entre as pernas.

Há de se pensar por onde vai a humanidade, como fazê-la voltar a ver a vida como ela realmente é. Que poucos sejam os que dão de ombros ao frio dos que sentem frio.

(O jornal ofereceu espaço para que algum desses “empresários de sucesso” escrevesse um artigo sobre a questão, mas ninguém topou)