Opinião: A ditadura, a memória e o escorpião
Elton da Costa Pinto (de Formiga/MG)

"Muitos animais têm memória e são capazes de aprendizado, mas, nenhuma criatura, a exceção de homem, pode relembrar o passado pela ação do tempo."
Após 37 anos, reacionários pedem a volta dos militares ancorada na falácia de que as Forças Armadas exercem o Poder Moderador. Desfaçamos os equívocos, isto é uma mentira grotesca, pois tivemos o Poder Moderador no Reinado de Dom Pedro I.
Na primeira Constituição de 1824, os artigos 151 e 163 permitiam ao monarca intervir em caso de conflitos assegurando sua preponderância sobre os demais poderes. A atual Magna Carta promulgada em 1988, que consolidou o ideal democrático após 21 anos de arbítrio, não existe tal dispositivo.
Os signatários desse golpismo no melhor estilo "UDN de Carlos Lacerda, o Arauto do Diabo" renega esta página negra de nossa história: a tal ditadura militar terrivelmente arbitrária, que fechou às instituições democráticas, torturou, perseguiu, oprimiu, assassinou lideranças políticas, sindicais, estudantes, trabalhadores, artistas, professores e intelectuais.
A ditadura era hipócrita, pregava a moralidade, mas, quem não se lembra dos escândalos de corrupção da CAPEMI, da Mandiocam, Coroa-Brastel, Sul Brasileiro, Habitasul, de arbitrariedades como senadores biônicos, Colégio Eleitoral, AI-5, Lei de Segurança Nacional, Sub Legendas, voto vinculado, censura, etc... etc... etc…
Os governos militares ancorados no pseudo milagre econômico do czar ministro Delfim Neto, não atendia as necessidades básicas do povo, ou seja, educação, combate à fome, moradia, saúde, saneamento básico, reforma agrária e distribuição de renda.
O patético “SOS, forças armadas” em frente aos quartéis e TGs é golpismo escancarado contra o estado democrático de direito. É gravíssimo e tem que ser punido nos rigores da lei. Doa a quem doer.
Para essa gente vale a pena lembrar uma pequena fábula de origem incerta, mas que anda em moda nestes tempos obscuros: “Era verão. Crepitava a floresta em chamas. Encurralado entre o fogo e o rio, preparava-se para a morte o escorpião, quando percebe a rã pronta para atravessar.
___Por favor, leve-me nas suas costas, diz o escorpião.
___Mas seu ferrão é impiedoso, conclama a rã.
___Ora, diz o suplicante, se eu ferrar você, morreremos os dois.
_ Sim, é verdade. Então suba, responde o batráquio convencido.
A meio caminho, sente a rã a dolorosa picada nas costas e interpela seu parceiro:
___Mas como? Isto não faz sentido, assim morreremos nós dois.
___Eu sei, responde o escorpião. Mas esta é a minha natureza.
E certamente, é da natureza de qualquer ditadura, seja de direita ou de esquerda.
VIVA A DEMOCRACIA!!!