Opinião: INSANA-IDADE

AC de Paula (de São Paulo)

Opinião: INSANA-IDADE
AC de Paula é dramaturgo, poeta e compositor




Dizem que o vinho fica melhor o quanto mais velho, não sei, só bebo cerveja, mas será que o mesmo serve também para as pessoas? Claro que não sei explicar, aliás, acho que tem coisas que psicanalista nenhum explica, quem dirá eu, um simples poeta. O que leva um jovem acumulador de juventudes, mais de sete décadas, a pegar um avião de São Paulo para Vitória-ES (950 km), e um o ônibus de Vitória para Pinheiros-ES (269 km), sete horas de viagem, para participar de um festival da canção que fornece alimentação, alojamento e paga uma ajuda de custo de R$ 900,00 (que não paga o custo da viagem).  

Pois bem, o referido acumulador de juventudes, assim como outros lunáticos, dirão alguns com certa razão, ao invés de curtir um merecido descanso se embrenha nessa verdadeira aventura (dormir em alojamento, improvisando cama com um colchão e meia dúzia de cadeiras), e ainda arrasta para a jornada seu parceiro musical. 

Alguns dirão, perderam o senso, mas eu vos direi no entanto, onde houver a chance de estar no palco defendendo sua canção, seu sonho, sua utopia, sua verdade, sua poesia e sua visão do cotidiano, o canta-autor, o poeta, o músico, o compositor festivaleiro se fará presente. 

Dos eventuais percalços e pedras do caminho, ele faz o pavimento da sua estrada e ergue os degraus da escada das realizações. Não é questão de sorte, destino ou sina, é uma questão de escolha. Este não tão jovem acumulador de juventudes escolheu estar junto dos melhores fazedores de arte musical na modalidade MPB que se apresentam pelos festivais pelo Brasil afora. 

É claro que ser premiado é um dos objetivos, mas não é o único e nem o principal deles. Sua rebeldia aventureira se justifica pelo acúmulo de juventudes e ele o faz pela simples razão de compartilhar experiências, reencontrar amigos, tomar umas brejas, e praticar o exercício da confraria.

Para ter orgulho em dizer que é um poeta letrista, parceiro musical dos mais consagrados, talentosos e respeitados músicos e intérpretes do cenário dos festivais, e para não cair na armadilha do eventual esquecimento, prefere não citar nomes. 

Entre os amigos estão aqueles que já pisaram a lama do dilúvio, verdadeiros dinossauros dos festivais e também novos talentos que ora ou outra se destacam, para alegria geral de todos os estradeiros. 

Enfim, podemos colocar as estripulias deste nobre acumulador na conta da sua insana-idade?