Opinião: O medo no trono do poder

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho (de Passos/MG)

Opinião: O medo no trono do poder
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho é advogado.




      Governar os Estados Unidos, o maior país do mundo em influência e poder, exige mais do que força, exige sabedoria. Ser líder de uma nação que dita os rumos da economia global e interfere diretamente nos destinos de outros países e outras sociedades não é tarefa para quem age por instinto, alimentado pelo cérebro animal. É um desafio que clama por lógica, bom senso e, sobretudo, humildade, virtudes raras em tempos de egos inflados e discursos inflamados.

         Donald Trump, com seu despotismo e bravatas, é um retrato do que ocorre quando o poder se alia ao medo. Sim, medo. Porque, no fundo, suas decisões e posturas autoritárias não são outra coisa senão respostas defensivas. Medo de perder a supremacia. Medo do diferente, do imigrante, do pobre, do que foge ao controle. E o medo, como sabemos, é conselheiro traiçoeiro, pois mais destrói do que protege.

         Um bom governante não pode se deixar guiar pelo pânico de um mundo em transformação. Ao contrário, deve abraçar a mudança como oportunidade, enxergando além das ameaças imediatas. No entanto, Trump escolhe a intemperança como ferramenta de liderança, afastando-se do papel de estadista e aproximando-se do papel de provocador. Ele prefere erguer muros quando deveria construir pontes, preferindo afastar o outro ao invés de integrá-lo.

         O maior país do mundo tem uma responsabilidade que ultrapassa os limites de suas fronteiras. Ele é uma força que pode tanto oprimir quanto libertar. E é precisamente aí que o bom senso e a humildade se tornam indispensáveis. Não se trata de abandonar os interesses nacionais, mas sim compreender que, no mundo de hoje, o destino dos povos está interligado. Os países pobres e emergentes não são ameaças, são parceiros em potencial, são espelhos que refletem desigualdades que precisam ser enfrentadas globalmente.

         Ao agir com prepotência, Trump revela não força, mas fraqueza. Não liderança, mas temor. E o medo, quando se senta no trono do poder, é um perigo não apenas para quem governa, mas para o mundo inteiro. Porque um líder que não consegue superar seus próprios fantasmas, dificilmente será capaz de guiar um povo, muito menos de inspirar nações.
        
Se o futuro nos reserva algo, que seja a superação desse medo ancestral. Que os líderes do amanhã desliguem o cérebro animal, raciocinem com lógica e governem com o coração voltado para o bem comum. Porque o verdadeiro poder não está em dominar, mas em unir. Não em dividir, mas em incluir. É disso que o mundo precisa, e é isso que nos falta.

         As pressões políticas não se restringem às fronteiras internas. América Latina, México, Brasil: todos sentem a pressão das decisões de Washington, seja no comércio, nas políticas migratórias ou na interferência política. O peso das políticas protecionistas e excludentes recai como um jugo sobre países que já carregam suas próprias mazelas e cruzes. A relação deixa de ser de cooperação e se transforma em um jogo de força, onde os mais vulneráveis são os primeiros a sucumbir.

            O papa Francisco, em sua sabedoria, já nos alertou: “Construam pontes, não muros”. E quão distantes estamos desse ideal! Pontes ligam histórias, unem mãos, criam laços de esperança e fortalecem sociedades. Muros, por outro lado (sem ofensiva blague), são símbolos do medo, de divisão, de uma incapacidade de lidar com o outro. Quando um líder opta por levantar muros, revela mais sobre si do que sobre aqueles que tenta excluir.

            O que nos espera, habitantes deste mundo compartilhado? Talvez um futuro de resistência. Porque, embora os muros sejam altos, o espírito humano é mais forte. Ainda há vozes que clamam por justiça, por inclusão, por empatia. Assim como há mãos que constroem pontes mesmo nas sombras do poder.

         Sim, é preocupante. Mas a história nos ensina que, cedo ou tarde, os muros caem. E quando isso acontece, o que resta não são apenas os escombros, mas uma humanidade capaz de transformar suas dores em novos começos, reinventando seu próprio destino.

 
          

luizgfnegrinho@gmail.com