Opinião: Putin, mente a ser desvendada
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho (de Passos/MG)
Pudesse avaliar o que se passa na cabeça e na alma do presidente russo Vladimir Putin. Depois, quem sabe, tentar com ele manter uma conexão pragmática, programática e filosófica sobre a crise com a Ucrânia. No meu entender, sob todos os pontos de vista, sem nenhuma serventia. Inequação em todos os termos. Burrice inominável.
E quem está aventando a hipótese de um armistício não é nenhum maluco defensor “da paz e amor”, “faça o amor, não faça a guerra”, ou adepto de um estilo de vida voltado à cor do branco da paz, pura e simplesmente. Nada disso. Trata-se de alguém que não vê vantagem na violência, seja essa de que natureza for, tanto para um lado quanto para o outro.
Tivesse oportunidade, sem nenhum constrangimento, cuidaria de dizer ao ex-agente da Stasi dos anos 80, que numa guerra, não importa o motivo pelo qual se está guerreando, todos perdem. É como numa briga ou discussão, ou altercações, como gostam de fazer uso esnobes de agremiações culturais e literárias. É isso. Ninguém ganha. Todos perdem.
Penso ter a mesma idade do presidente russo. Em modesta vida de pouca valia, que me lembre, passei por vias de fato umas três, quatro ou cinco vezes. Bati e apanhei. Na resultante, perdi em todas. Ou seja, para o bem ou para o mal, não me ocorre em nenhuma circunstância ter levado vantagem.
Disso não me esqueço. Fim da década de 60. Lá se vão mais de 50 anos, logo após a aula no Estadual, um rapaz forte ficou de me pegar na rua porque não lhe passara cola. Aguardou-me na Lanchonete do Antônio, bem na esquina da escola. Tremi que nem vara verde. Lembro-me de quando o enfurecido colega avançou sobre mim com tudo. Na ocasião, pensei. Vou levar uma surra daquelas! O desafeto era maior, mais parrudo e boa ginga de corpo. Fama no ginásio de ser bom de briga.
Não sei onde fui arranjar força, determinação e garra. Penso que na zona cinzenta do medo. O sentimento do medo costuma ter seus encantos. Serviu-me então como frenagem e ponto de apoio para encarar a situação adversa. Na refrega apliquei-lhe uma surra daquelas.
Que eu me lembre, fiquei conhecido por todos como bom de briga, o que não foi nem um pouco interessante. Por consequência, os encrenqueiros do meio queriam saber o quanto. Em seguida, depois da vaca ir para o brejo, mesmo porque não era e nunca fui bom de briga, tentava de toda forma sair pela tangente. Mas, longe de ficar com o burro na sombra, como se diz no popular, tentava, de todas as formas, o diálogo, a concórdia, a paz. Às vezes conseguia, às vezes, não. Em não conseguindo, “pernas para que te quero”.
Briguinhas escolares à parte, cheguei a pensar na possibilidade de êxito do presidente francês Emmanuel Macron, parceiro diplomático de ambos os lados, Rússia e Ucrânia, ele que, por conversa telefônica, tentou dissuadir o presidente Putin de parar com o conflito com a Ucrânia. Pelo contrário. O que se ouviu: “O pior está por vir”. Não se briga com o errático e o irracional. Deve-se optar, sempre, pelas linhas e forças envolventes do coração.
Desconheço o que conversaram. Nem tampouco sei o que disse ao líder ucraniano, Voloymyr Zelensky. Não sei o teor, forma e a argumentação escolhida. Mas, juro, por todos os juros e juras, queria ter-me colocado no lugar do presidente francês. Ia contar das desavenças que tive e mantive com amigos, parceiros e colegas no Educandário, Estadual, Tiro de Guerra, campos de futebol. Briguinhas e desavenças tão paroquiais quanto bobas, na trivialidade, se tornaram boas. Hoje sinto saudade. E muita.
No frigir dos ovos, ninguém ficou com raiva de ninguém. Não houve malquerença. Ficava-se de mal, sim. Mas não durava muito. No correr de dias e na obediência de algumas pitadas de sal: “Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes”.
E era bom pra chuchu.
PS: A tempo (ó tempos, ó costumes), com repetidos ataques e bombardeios militares por Israel ao Líbano, pobre Beirute! Quantas vezes será preciso provar à humanidade seu grau de resistência e resiliência? Entre tantos episódios históricos bélicos de extrema gravidade, outra conta de balcão que há muito não fecha. O sentimento eterno de tristeza e abandono.