Poesia: Amor líquido
Ana Pamplona (de Formiga)
O amor é líquido
percorre o corpo
dilatando e contraindo vasos
livremente
não se deixa entupir
por meros trombos
nem extravasar
por excêntricos aneurismas.
O amor é líquido
caminha, flutua
driblando obstáculos
assumindo as formas recipientes
adaptando-se, insinuando-se.
O amor é líquido
sobe e desce quando
e onde precisa
preenchendo espaços vazios
desocupando buracos.
O amor é líquido
Quando cai não coagula
não suja, nem borra.
O amor é líquido
não arrebenta o fraco
nem peita o forte
contorna-os.
O amor
quando doente é gás
desaparece, evapora-se
quando convém.
Quando doente também
o amor é sólido
estagna-se formando barreiras
muro de amor
parede de amor
prisão e pedra de amor.
O amor é líquido.
Assim é o amor
líquido desapaixonado
liquidamente amor.