Cônica: SEM

AC de Paula (de São Paulo)

Cônica: SEM
AC de Paula é dramaturgo, poeta e compositor




Sem pé nem cabeça, sem papo furado, sem rosto colado, sem beijo molhado, sem grana, sem molho, sem gana, sem risco, sem dó, sem confisco, sem tino, sem viço, sem sangue no olho,
sem carta marcada, sem vaga, sem fila, sem data agendada, sem trilho, sem trilha, sem teima sem trama, sem teia, sem drama, sem frete, sem guia,
sem pressa, sem tempo, sem chuva, sem vento, sem lua, sem troça, sem roça, sem senso, sem aptidão, sem leviandade, sem opinião, sem corrupção, sem identidade,
sem conexão, sem dor e sem medo, sem papas na língua, sem nenhum segredo, sem grilo na cuca, sem saldo na conta, sem soco no ar, sem faca de ponta,
sem adversário, sem crise, sem sola, sem aniversário, sem regra, sem bola, sem objetivo, sem foco sem luz, sem adjetivo, sem reza, sem cruz,
sem sede, sem tédio, sem raiva, sem zanga, sem grude, sem pena, sem pano pra manga, sem troco, sem gasto, sem banho, sem trava, sem trevas, sem prova, sem ganho,
sem fome, sem gula, e sem apetite, sem bala na agulha, sem cais, sem rebite, sem experiência, sem moderação, sem tese ou ciência, sem inspiração,
sem limite, sem voz, sem lucro, sem preço, sem laço, sem nós, sem lacre, sem apreço, sem cor, sem vestígio, sem lenço, sem lamento, sem falso prestígio, sem discernimento,
sem valha-me Deus, sem galho de arruda, sem Deus me ajuda, sem planta, sem muda, sem paz, sem contexto, sem lei, sem cabresto,
sem juízo, sem clemência, sem nenhuma coerência, sem saudade que corrói, sem ilusão, sem tenência e sem barriga me dói.