Crônica: A multa
Manoel Gandra (de Formiga/MG)
A pessoa quando é boa marca a história do lugar onde vive. Foi assim o grande João Dias, vereador dos mais atuantes, formiguense apaixonado, figura ímpar e homem de bem.
Com um carisma sem igual, foi eleito várias vezes em uma época em que vereador não era remunerado. Na Câmara Municipal, só ficava quem queria trabalhar para o bem de cada comunidade. O interesse público estava sempre acima do particular (talvez por isso, Formiga era uma das maiores cidades de Minas Gerais).
Como toda pessoa de personalidade forte, João Dias é sempre citado em fatos pitorescos do folclore político formiguense. Tem mais uma dele:
Dizem os antigos que o ex-vereador foi dos primeiros cidadãos a ter um veículo na cidade. Era um fordinho muito bem conservado comprado em Belo Horizonte.
Assim que recebeu os documentos do carro, João Dias deu um jeito de aprender a dirigir (o instrutor foi o Zé Varal) e acabou ficando bom no volante.
Em uma segunda-feira à tarde, João Dias tinha de levar uns correligionários à rodoviária (que ficava na Rua Doutor Carlos Chagas) e não cabia todo mundo no fordinho. Era preciso dar duas viagens. Ao passar pela Praça Getúlio Vargas, ele ouve um apito. Era o João Soldado:
__Ô, Seu João. Que correria é essa? Como o senhor é um vereador, um homem que faz leis, eu não posso deixar de chamar sua atenção e vou ser obrigado a registrar uma multa.
Afoito, João Dias respondeu na lata:
__Olhe aqui seu João Sordado, vai logo preenchendo duas murta aí. Tô apertado de tempo e vô tê que vortá na mêma tuada.
João Soldado sorriu e atendeu ao pedido.