Crônica: Batida no poste

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: Batida no poste
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Era fim dos anos 50 e a política era ferrenha em Formiga. O prefeito era o médico Ari Aluísio Soares e tudo o que ele fazia era repleto de responsabilidade e bom senso.

Contam que um de seus principais assessores pegou um carro da Prefeitura escondido e saiu para dar umas voltinhas pela Rua Santo Antônio, onde ficava a antiga zona boêmia. Por volta das três da madrugada, o homem, depois de crã, saiu completamente embriagado e na companhia de duas assanhadas, bateu com o carro oficial em um poste perto do Posto Dois Mil.

Veio depressa um policial militar, que estava há pouco tempo na cidade e não conhecia ninguém, para fazer a ocorrência.

__Não chegue perto de mim não que eu sou o prefeito, sou o Doutor Ari. Se me encostar, você vai ver, eu mando você transferido pra Guapé, ameaçou o assessor.

Meio sem graça, o policial dispersou a multidão, mandou que o carro fosse retirado e ainda levou o suposto prefeito para casa.

No outro dia, Doutor Ari fica sabendo do que aconteceu e chama o assessor.

__Como é que o senhor faz uma pouca vergonha desse tipo. Vai pra zona com carro oficial e, pior, ainda fala que sou eu. Nunca mais faça isso. Da próxima vez, vê se pelo menos fala que você é o Joffre (Joffre Faria era o principal adversário político de Ari).

Pouco tempo depois, esse assessor deixou a Prefeitura e se formou advogado. O desafeto político do prefeito nunca ficou sabendo do risco que correu.