Crônica: Ovarioteran

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: Ovarioteran
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Político carrancudo em Formiga não é coisa corriqueira. Ninico Resende, por exemplo, foi um grande gozador.

Quem não sabe como funcionam os bastidores da vida pública imagina que a vida dos protagonistas é desanimada e chata, o que não é verdade.

Na verdade, Ninico era muito escrachado. Se juntasse gente, ele era o que contava piadas em tom mais alto. Se pegava no pé de alguém...

Quando foi eleito prefeito, em 1976, Ninico se esbaldou. Quem achava que encontraria no gabinete principal do Poder Executivo uma pessoa de cara fechada, se surpreendeu. Ele, de imediato, adotou sua maneira simples e popular. Para seu assessor, contratou o conhecido marceneiro Jordelino de Oliveira Campos, o Nego da Liquinha.

Nego era do tipo que fazia de tudo. Bom motorista, estava sempre levando Ninico pra lá e pra cá. Como grande admirador do político, ouvia atentamente os conselhos e procurava cumprir à risca as orientações.

Era uma segunda-feira de manhã, e Nego chegou reclamando que tinha ido a um churrasco no domingo, e que a carne tinha feito mal. Ele estava com uma danada de uma diarréia. Dando uma de médico, Ninico contou que havia um remédio novo chamado Ovarioteran, e que era só tomar uma colher de hora em hora que o problema passaria. Era tiro e queda.

Acreditando na receita, Nego foi à Drogaria Santa Maria, comprou o remédio e o colocou em cima de sua mesa para não esquecer. De hora em hora, ele tomava o medicamento. Fazia rodinha para ver.

Só no outro dia é que ele ficou sabendo que Ovarioteran era um remédio para cólicas menstruais. As rodinhas se formavam porque Ninico convocou a Prefeitura inteira para presenciar a maldade.