Crônica: O preço do palpite

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: O preço do palpite
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Tem uma história divertida que ocorreu com um famoso advogado de Formiga, pessoa honesta, séria e profissional muito competente. Como ele é um verdadeiro mate-leão (já vem queimado), seu nome terá de ser omitido. Pelo fato de ele também ser um GATO, ele pode querer arranhar.

Era juiz de Direito em Formiga o extraordinário Alfredo Olivote Neto. Natural da cidade de Extrema, divisa com São Paulo, Frêdão (como era chamado por seu grande amigo, o promotor de Justiça e fiel companheiro Edmar Augusto Gomes) era um tremendo gozador. Não podia ver uma gafe de advogado que o cara virava um  coitado na mão dele.

Certa vez, Edmar e Frêdão estavam em uma audiência com o tal advogado. Terminados os trabalhos, o juiz e o promotor começaram a ouvir os lamentos do profissional que reclamava que era muito difícil trabalhar em Formiga, porque havia uma cultura na cidade que fazia com que todo mundo quisesse uma opinião de advogado sem ter de pagar pela consulta.

__Coloquei um cartaz na porta do meu escritório escrito assim ‘Consultas e pareceres: R$100,00’. Os senhores acreditam que, ontem, veio um senhor da roça com uma planta de uma fazenda reclamando que houve invasão de cerca do vizinho e pedindo um palpite para saber o que poderia ser feito na Justiça. Peguei os documentos, estudei e cheguei à conclusão de que o vizinho não tinha culpa nenhuma. Fui cobrar e ele disse que não pagaria nada porque eu não tinha gastado nem papel do escritório. É um absurdo.

Com olhar sério e cara fechada, o juiz Alfredo Olivote explicou ao advogado que o errado era ele:

__Faltou o et cétera...

__Mas que et cétera? , perguntou o advogado.

__O senhor escreveu consultas e pareceres. O que o seu cliente quis foi um palpite, que não estava escrito no cartaz. Vá lá e escreva ‘Consultas, pareceres e etc: R$100,00’. Assim, toda vez que alguém quiser um palpite ou uma opinião, o senhor pode cobrar.

O promotor Edmar, que ouvia o papo atentamente, deu uma gargalhada que fez estremecer os corredores do Fórum. O advogado ficou sem graça, mas nem notou o que havia acontecido. Foi lá e tacou um et cétera no cartaz.