Crônica: Fogo na Igreja de Bambuí
Manoel Gandra (de Formiga/MG)
Para poder se tornar diário, o jornal O Pergaminho teve de montar seu próprio parque gráfico. Comprou maquinário, treinou mão-de-obra e montou estoque. Como o jornal seria impresso só à noite, o pessoal da empresa foi obrigado a procurar periódicos de outras cidades para rodar quando as máquinas estivessem paradas.
Um dos primeiros clientes foi o jornalista Donizeth Rosa, que mantinha o semanário O Milênio na cidade de Bambuí. Como era obrigado a levar seu jornal a Belo Horizonte, mais de quatro horas de ônibus, o jornalista achou mais fácil se dirigir a Formiga. Bom papo, logo fez amizade com o pessoal de O Pergaminho.
Chegava e ficava esperando seu jornal ficar pronto. Ia para a Redação acompanhar as matérias e acabava tendo idéias para o seu periódico. Com o tempo, Donizeth foi vendo o funcionamento do diário e alimentando o sonho de fazer seu empreendimento crescer. Matutou, fez contas e traçou um plano. A idéia seria a seguinte: ele continuaria com o jornal semanário e, um vez ou outra, quando tivesse alguma notícia importante, faria uma edição extra. Com o tempo, seu jornal passaria tranqüilamente a bi-semanal.
Deu que passou uma semana e Donizeth liga para Formiga dizendo que tinha uma bomba: a igreja mais antiga da cidade estava pegando fogo e a comoção em Bambuí era grande. A edição extra precisava circular ainda naquele dia.
Pouco tempo depois, o jornalista já estava em Formiga. Entrou correndo na sede de O Pergaminho trazendo o disquete com a edição digitalizada. As máquinas começam a rodar. O pessoal da gráfica pega um exemplar pra ver o estrago, mas as fotos são da igreja ainda em pé. Linda, majestosa. O chefe da gráfica manda parar tudo e chama o dono do jornal de Bambuí:
__Deve ter alguma coisa errada. No seu jornal não tem as fotos da igreja pegando fogo. Cadê as fotos do incêndio?
__Deus me livre! Cês tão doidos. Cês acham que eu iria colocar a igreja destruída no jornal? As fotos ficaram muito feias. Foi um fogaréu horroroso. O povo iria se revoltar, o pessoal me bate...
A edição especial de O Milênio sobre o incêndio da igreja acabou saindo sem as fotos do sinistro. Com o tempo, a comunidade reconstruiu a igreja, mas não leu o jornal, que acabou fechando.