Opinião: A pescaria

Figura das mais queridas e populares, o ex-escrivão Licurgo Fonseca Viana é protagonista de inúmeras passagens que marcaram e que marcam a história de Formiga. Muito engraçado, ele é um gozador contumaz. Se tem uma chance, logo apronta para cima de alguém.

Em 1974, o Brasil acabava de ser desclassificado pela Holanda na Copa do Mundo da Alemanha. A tristeza na cidade era geral. Naquela época, virava moda em Formiga a pescaria organizada. Empresários dos mais diversos se uniam para idas ao Pantanal Matogrossense. Viajavam em carros particulares, e pequenos caminhões e caminhonetes levavam os apetrechos (barcos, varas, minhocas, barracas...).

Assim que o “carrossel” holandês desbancou o escrete canarinho, muita gente deu um jeito de procurar se encaixar em alguma pescaria para afogar as mágoas. 

Sentado em um banquinho na Praça Getúlio Vargas, Licurgo batia um papo com dois apaixonados por futebol: Silvinho Soares e Hélio das Máquinas. No meio da conversa, houve a idéia:

__Vamos fazer uma pescaria no Araguaia?, convidou Hélio.

Licurgo e Silvinho toparam na hora. Ficou tudo certo, Silvinho e Hélio iriam contratar cozinheiro, alugar caminhão e as despesas seriam divididas.

Depois de tudo arrumado, Silvinho e Hélio saíram procurando Licurgo pela cidade para pegar a parte dele. Mas nada de o ex-escrivão aparecer. Dois dias depois, eles  encontram Licurgo conversando em frente à Pizzaria Pilão com o Joaquim Tintureiro.

__Pô, Licurgo, tá tudo pronto. Só falta você pagar a sua parte.

__Olhe aqui, eu estive pensando e não vou mais não. Além do mais, se eu tiver que dormir à beira de rio, eu alugo um quarto no HOTEL MAIA, que tem ventilador, colchão de molas e café da manhã com presunto, que eu gosto muito.

Silvinho e Hélio se olharam epantados, não estavam entendendo nada. Licurgo deu um sorriso, foi embora e tal pescaria não aconteceu.

Para quem não sabe, o Hotel Maia é o mais tradicional da cidade. Ele fica às margens do Rio Formiga, bem ao lado da ponte da Rua Bernardes de Faria.