Crônica: Legítima Defesa

AC de Paula (de São Paulo)

Crônica: Legítima Defesa
AC de Paula é dramaturgo, poeta e compositor




Ela jurava que tudo estava nos conformes, exatamente como sempre estivera, mas no fundo no fundo ele sabia que havia algo diferente.  Ele não tinha absolutamente nenhuma prova de que algo estivesse ocorrendo, mas que estava... ah, estava!  Ele tinha certeza!

O detetive que ele contratara havia lhe entregue o relatório mensal juntamente com as fotos e os vídeos e não havia absolutamente nada de anormal. Compras no shopping, café com as amigas, piscina e sauna no clube, onde ele inclusive conseguira infiltrar uma espiã, tudo absolutamente acima de qualquer suspeita, e era exatamente isso que o fazia suspeitar ainda mais!

Havia ainda as fotos e os relatórios feitos pela recepcionista do dentista e pela enfermeira do consultório do seu médico particular. Nada, simplesmente nada, e aquele Saara de provas o deixava à beira de um ataque de nervos!

Ela sabia é claro, daquela paranoia, mas desde que se decidira a ser feliz nada mais lhe importava, havia aprendido que felicidade é simplesmente um estado de espírito e que a vida era feita desses preciosos momentos felizes.

Ele se debatia cada vez mais desesperadamente na areia movediça da sua desconfiança! O tempo passava, a dúvida aumentava, o desespero crescia!

Até que, naquela tarde, aconteceu o que aconteceu!

No interrogatório, ele alegou que havia agido em legítima defesa do seu próprio matrimônio, e ante o espanto do incrédulo delegado ele explicou:

- Doutor, eu não consegui me controlar e agi sob forte e violenta emoção quando o passarinho verde que ela trazia tatuado no olhar, saiu cantando e batendo asas pela sala!