Crônica: Na loja de R$1,25

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: Na loja de R$1,25
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Com a estabilização da moeda brasileira, apareceram estabelecimentos comerciais com várias novidades e promoções. Vendas sem juros, 60 dias para dar entrada e preço fixo em todas as mercadorias.

Em cidades do interior mineiro, dentre elas Formiga, é claro, as coqueluches foram as lojas de R$0,99 (todas as mercadorias custavam R$0,99) e depois as lojas de R$1,99 (é que houve um pouquinho de inflação).

Passado mais um tempo, instalou-se na cidade, mais precisamente na Rua Silviano Brandão, uma loja de R$1,25 (a inflação caiu um cadiquinho). Mais moderna que as outras, ela tem as mercadorias expostas como em um supermercado. A pessoa vai pegando, e depois é só passar no caixa para fazer as contas e pagar.

Era quase meio-dia e chovia muito. Passa em frente à loja o designer gráfico Clayton Castilho. Andava tranqüilamente tampando a cabeça com uma sacolinha do Supermercado ABC quando do lado de fora viu em uma prateleira da loja uma mercadoria que lhe chamou a atenção: uma mochila igualzinha à que ele estava precisando. Era branca, de alças azuis e com um enorme escudo do Cruzeiro, seu time do coração.

Por R$1,25, não perdeu tempo. Entrou, pegou a mochila e foi para a fila do caixa. Já estava para ser atendido, quando levou um susto e uma guarda-chuvada nas costas:

__”Largue a minha mochila, se não eu vou chamar meu pai”, disse um menino de uns 12 anos pronto para o escândalo.

Clayton ficou sem saber o que estava acontecendo, agarrou a mercadoria com força, e o menino caiu no choro. Só então apareceu uma atendente e explicou a ele que a prateleira onde ele pegou a mochila não era bem uma prateleira, era o guarda-volumes do estabelecimento.

Sem graça, Clayton pediu desculpas, colocou a sacolinha do Supermercado ABC na cabeça e saiu de fininho.