Crônica: O Mineirão e o 11 de setembro

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: O Mineirão e o 11 de setembro
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Parece mentira, coisa inacreditável, mas é verdade e há testemunhas.
Silvestre Simões de Oliveira é muito conhecido em Formiga. Ex-estudante do Colégio de Aplicação, formou-se em engenharia eletrônica na PUC-Minas e, hoje, é analista de sistema de um grupo que presta serviços à Ambev, na cidade de Juatuba, perto de Belo Horizonte.
Silvestre é como um bom escoteiro: sempre alerta. Lê jornais e é comum estar por dentro dos principais assuntos nacionais e internacionais.
O dia 11 de setembro de 2001, quando a moçada da Al Qaeda derrubou as torres gêmeas do World Trade Center, foi macabro na vida de Silvestre. De tão impressionado, o jovem não dormia. Ficou chocado e dizem que chorou.
Passado um tempo, depois de recomposto, o engenheiro resolveu ir ao Mineirão assistir a uma partida do Cruzeiro contra o Flamengo pelo Campeonato Brasileiro. Um pessoal de Formiga avisou que ia e ele resolveu fazer companhia.
Chegado à vida confortável, Silvestre não quis saber de arquibancada. Escolheu uma cadeira estratégica, perto do bar e dos banheiros, pegou um copo de chope (os amigos brincam que foram uns oito) e esperou pelo início do jogo.
Já tinha acabado a preliminar, muita gente esticando as pernas, quando Silvestre olhou para a cadeira ao lado e viu uma figura estranha: um sujeito cabeludo, de roupas pretas, tomando conta de uma pequena sacola. Esperto, ele sacou na hora: um terrorista. Ficou apavorado, olhou bem para o sujeito e viu que o tipo era conhecido, já o tinha visto na “Globo News”, deveria ser algum fundamentalista muçulmano procurado.
O jogo tem início e Silvestre passa o primeiro tempo com um olho no campo e outro no suspeito. E tome chope. Começou o intervalo (o Cruzeiro ganhava por dois a zero, o formiguense não viu os gols) e o tal rapaz se vira para ele e entrega-lhe a sacola pedindo para tomar conta. O engenheiro tremeu.
Apavorado, Silvestre chamou um policial e fez a denúncia: “é uma bomba”. Todo mundo se afastando e o militar pedindo calma. O Mineirão se levanta para ver o que estava acontecendo.
Experiente, o PM pegou o apetrecho com a ponta do cacetete e o colocou no chão. O estádio em silêncio. Com jeito, a sacola foi aberta. A expectativa não se cumpriu: só roupa suja.
Aparece o dono:
__Me dá aqui esta sacola, seu doido, disse o homem para Silvestre.
__Prende ele, seu guarda. Eu já vi a cara desse sujeito na televisão, ele é terrorista.
Depois de muito bate-boca, descobriu-se que o tal cara era o vocalista Branco Melo, do grupo de roque “Titãs”. Era das apresentações do conjunto que Silvestre o conhecia.