Crônica: Passeando de elevador

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: Passeando de elevador
Manoel Gandra é poeta e jornalista




O ano era 1971 e já não havia nenhum titular do Formigão-68 morando na cidade. Sai a tabela do campeonato mineiro e lá está o time do Formiga na lista dos participantes, com as datas dos jogos já previstas.

Foi uma correria danada. O FEC tinha se esquecido de pedir licença à Federação Mineira, não tinha dinheiro para participar do campeonato e, se desistisse, poderia ter o Juca Pedro interditado.

Como não tinha muito o que fazer, a diretoria resolveu montar uma equipe com  juvenis e com jogadores da cidade para “cumprir tabela”. Montaram um time até que mais ou menos e começaram a disputar o torneio. Levaram de seis a zero do Democrata, de Governador Valadares, e de quatro do Valeriodoce, de Itabira.

Foi um período não muito bom para se lembrar, do ponto de vista esportivo, mas dos mais ricos com relação aos causos envolvendo os atletas. Como a maioria era muito jovem, as “manotas” eram freqüentes e tudo era motivo de brincadeiras.

Para cumprir tabela, o Formiga tinha de jogar com o Nacional lá em Uberaba e o saudoso Rubinho da Farmácia foi escalado para ser o chefe da delegação. Era sábado e o ônibus do Nicodemos saiu de Formiga por volta das duas da tarde. Chegou a Uberaba às oito da noite.

Foram para o Hotel Real, que ficava no centro da cidade, onde já havia um jantar preparado para a garotada. O jogo seria no domingo, às dez da manhã.

Já na chegada, todo mundo ficou espantado. Era um edifício de dez andares (naquela época não havia nem Neném Belo em Formiga) e brincam que o Rui Cabeção quase quebrou o pescoço de tanto olhar pra cima. Na hora do jantar, estavam todos concentrados no prato quando ouviram o Rubinho dando uma esculhambada no garçom:

__Este é o time do Formiga, do Formigão. Como o senhor se atreve a servir angu com cinza de cigarro?

O garçom explicou:

__Meu senhor, isso aqui é um purê de batatas com orégano... é uma especialidade da casa.

Foi aquela festa. De cara vermelha e fechada, Rubinho mandou todo mundo ir para os quartos.

No outro dia, lá pelas sete horas, o chefe da delegação sai acordando todo mundo. Só que  no quarto onde estava o Zé Muiezada (que era o apelido que tinha o hoje competente Zé Corretor) e o José Carlos (filho do Seu Divino do Alvorada), não havia ninguém. Foi uma preocupação. Apavorado, Rubinho chama o elevador para buscar informações na portaria. Chega o elevador e lá dentro se encontram os dois jogadores dormindo encostados um no outro.

O que aconteceu foi que eles resolveram passear de elevador (nunca tinham andado), que era dos mais antigos, daqueles com porta aranha. O elevador emperrou, não dava para abrir por dentro e eles passaram a noite toda subindo e descendo os dez andares do Hotel Real.

Placar do jogo: Nacional 3 x 1 Formiga.