Crônica: No Bar do Laranjinha

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: No Bar do Laranjinha
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Donizete, o Laranjinha, é daqueles comerciantes que nasceram para dar certo. Divertidíssimo e gozador, ele tem grande roda de amigos e seus palpites sobre política e futebol, de tão inteligentes, são sempre os melhores. Pessoa dedicada ao trabalho, Laranjinha encontrou no ramo de bares e lanchonetes a sua verdadeira vocação. Teve vários.

No início dos anos 90, o comerciante era proprietário de um barzinho em Formiga, ele ficava na esquina da Praça Getúlio Vargas com a Rua Pio XII. Era um lugar pequeno, onde cabiam apenas um balcão, um fogão e um refrigerador. Os clientes ficavam no passeio. Apesar de parecer desconfortável, sempre havia fila.

O bar abria antes das seis, o óleo iniciava fervura e Laranjinha começava a soltar a especialidade da casa: pastéis dos mais variados recheios junto com comentários divertidos. Seis e meia e quem vinha pelo passeio tinha de descer. O movimento era enorme: trabalhadores, estudantes, costureiras... O negócio só crescendo, tudo às mil maravilhas.

Apesar de muito alegre, o comerciante deixava claro para os chegados que também era uma pessoa muito franca e que seu lado sistemático de vez em quando aflorava.

Para acordar sempre no horário e poder atender sua freguesia matutina, Laranjinha não gostava de ficar no batente até tarde. Batia quatro da tarde e ele já ia arrumando as coisas.

Mas teve uma vez que aconteceu uma...

Por causa de um toró de verão, Laranjinha tinha atrasado na faxina, já estava dando cinco e meia quando ele terminou o serviço. Tava pra baixar a porta, quando apareceram dois funcionários do Banco do Brasil recém chegados na cidade.

__Dizem que o pastel daqui é muito bom...

Laranjinha fechou a cara, tirou o pano do ombro e começou a limpar o balcão:

__É, mas já acabou. Tem mais não.

__E coxinha?

__Tem também não.

__Então me dá uma cerveja. Que marca o senhor tem?

__Tá tudo quente.

        Um dos bancários acabou apelando e soltou na lata:

__Então porque você não fecha este lugar?

__Só tô esperando ocês ir embora.

Os caras saíram e no outro dia cedinho, lá estava Laranjinha trabalhando e contando pra todo mundo o que tinha feito com os dois chatos engravatados que tinham ido lá amolar.