Crônica: Retalhos

AC de Paula (de São Paulo)

Crônica: Retalhos
AC de Paula é dramaturgo, poeta e compositor




Até hoje ainda não sei se a gente faz o próprio destino, só escreve o prefácio ou, na verdade, nem isso.

Não há razão alguma para que esquentemos a cabeça pensando nisso, ao final tudo sai como deveria ter sido e não somos o autor do roteiro.

Se assim fosse, é claro que tudo seria perfeito, ou talvez nem tanto! Claro que nossas atitudes trazem efeitos, mas creio que elas já estão programadas independentemente da nossa vontade.

Mas isso não nos livra da responsabilidade dos nossos próprios atos, não dá para simplesmente tirar o bracinho da seringa.

Não adianta querer voltar ao passado para corrigir erros cometidos, a vida não tem replay. Temos que viver com as consequências do que fizemos ou deixamos de fazer.

Podemos também usar a criatividade e cometer erros novos, afinal ninguém está livre deles. 

É preciso viver com cautela de escoteiro, pois só temos a certeza de que tudo é etéreo e passageiro. 

A gente troca esta certeza absoluta por um ilusório talvez, quem não arrisca não corre o risco.

E assim a vida segue e a gente não consegue livrar-se da teimosia de insistir em cometer desatinos.

E seguimos entre cores e dores costurando a colorida colcha de retalhos chamada vida.

Voar

 

 

A esperança equilibrista despencou da corda bamba, excesso de confiança causou o erro fatal. Quanto maior é o sonho também o será o tombo.

E não é preciso o assombro. No entulho dos escombros, as intenções se disfarçam e não se percebe a farsa a céu aberto e olho nu.

Ah! Se tudo fossem cores e o aroma das flores impregnasse o universo, embriagado de versos, por motivos os mais diversos e imunes aos anseios.

Os fins justificam os meios, meio assim e meio assado, e os motivos dos receios, dispersos fragmentados.

Cenários os mais diversos que não se ouse cantar, em prosa, rimas e versos, em cada canto ou lugar.

É como um grito de alerta que clareia a escuridão, ou o verso de um poeta, a certeza do profeta, o caos da desilusão.

A incerteza contudo prevalece sobre tudo, feito água cristalina que navega em rio turvo.

Encantos e desencantos, flores, pedras no caminho, que fazem da caminhada pássaros em revoada em busca de um novo ninho.

E com a alma lavada, levada por querubins, a esperança se agiganta, abre um sorriso e canta, quem tem um sonho não cansa e quer voar mesmo assim!