Crônica: Futebol!

AC de Paula (de São Paulo)

Crônica: Futebol!
AC de Paula é dramaturgo, poeta e compositor




Não sou, com certeza, um dos muitos técnicos de futebol dessa pátria varonil, portanto, sou uma exceção ao dito popular de que "todo brasileiro é um técnico quando se fala em seleção brasileira de futebol."  Aliás estive pensando sobre esta tão lucrativa quanto insólita profissão, sem entrar no mérito da verdadeira fortuna que envolve a transação dessas contratações. Num país onde o salário mínimo não chega a ser mil e quinhentos reais, os contratos milionários, a meu ver, são injustificáveis.

Fazendo jus a outro dito popular, "tudo vai bem quando tudo está bem", a carreira de técnico de futebol é o maior exemplo disso. O cenário do mundo do futebol mudou radicalmente nos últimos anos. Hoje, ainda surgem os jogadores diferenciados, os craques de berço e não aqueles fabricados nas escolinhas e nem no ferro e fogo da mídia. Mas, infelizmente, na maioria das vezes essas promessas acabam ficando no mundo das promessas. Não é que os jovens talentosos desaprendem, afinal se eles surgiram é porque realmente tinham potencial. Mas na engrenagem do sistema midiático e econômico que impera, o jovem craque promissor, em pouco tempo, passa de atleta de futebol a social influencer, e muito rápido aprende que é possível continuar a faturar muita grana, ou até mesmo mais grana, sem se arriscar pra valer no esporte do povo, e o empenho do jogador nos gramados, dá lugar às presenças vips em festividades em que eles faturam alto simplesmente para marcar presença.

Enfim, o grande jogador segue a lei do mínimo esforço e risco zero, e passa dedicar-se quase que integralmente à divulgação e preservação do seu status de celebridade. E o futebol? Normalmente fica em segundo plano. No entanto, o valor dos ingressos é incompatível com a renda da maioria dos fanáticos torcedores.  Quando os clubes conseguem montar uma equipe vencedora sempre existem aqueles jogadores que mais se destacam e que, naturalmente, tem um valor de mercado geralmente muito alto. Inexplicavelmente, a maioria dos clubes vivem na pindaíba, então começa o desmanche da equipe e as maiores estrelas são vendidas para fazer caixa. O clube então despenca na tabela de classificação e vai sempre de mal a pior, e o culpado de plantão é sempre o técnico. Então, no auge do caos descobrem que, se o time vai mal, a culpa é do técnico, e demite-se o técnico sem se importar com o tempo de contrato que ele tenha assinado, e paga-se multas milionárias pela rescisão. Mas aquela grana toda da venda das grandes estrelas do time, vai para o ralo da história, e contrata-se um novo técnico, novamente a peso de ouro e com contratos com cláusulas de multas rescisórias absurdas, que mais dia menos dia serão aplicadas.

Voltando aos técnicos de futebol, o roteiro para o histórico destes profissionais, guardando-se as devidas proporções, é sempre o mesmo. E a maioria dos clubes continua a se afundar na areia movediça da própria incompetência administrativa. E eu nunca me esqueço que já ouvi um grande técnico de futebol dizer: Técnico não ganha jogo, quem ganha jogo é o jogador!