Crônica: Passageiros

AC de Paula (de São Paulo/SP)

Crônica: Passageiros
AC de Paula é dramaturgo, poeta e compositor




Dobrei o cabo da boa esperança, hoje navego em águas mansas, já não me apraz a tormenta, coração já não aguenta a montanha russa das emoções. 

Pra que forçar a natureza se a verdade e a certeza feito água cristalina, hoje me embaça a retina na rotina do tempo que se esvai. O que passou já era, o que virá é o anzol da interrogação.  

Há de se envelhecer mas sem perder a candura, e embora a vida seja dura é importante sonhar, ao menos os sonhos não envelhecem. 

No rosto, as marcas, as rugas, melhor esquecer as rusgas que houveram outrora, viver o aqui e o agora é necessário e vital. E os cacos coloridos do vitral da existência não oferecem resistência à luz que o sol irradia. Felicidade não se adia e nem se deixa para amanhã e nenhuma esperança é vã. 

Quem sabe o caminho certo não acha longe nem perto, noite escura ou céu aberto, navegar não é preciso, ponha na cara um sorriso mas viver é melhor que sonhar, assim falou o poeta. 

E pelo prisma do esteta, o certo por linhas tortas não é errado nem certo, no fim do túnel é o deserto. 

Absoluto ou relativo, alienígena ou nativo, a procedência pouco importa, quem vem lá? quem bate à porta? Quem o souber me responda e por favor não se esconda, nada é o que parece, e se o silêncio é uma prece, vá devagar, não se apresse, nem reze pro santo errado. 

Se um novo dia amanhece, a gente quase se esquece do dia que já passou. Tudo é assim, passageiro, fama, beleza, dinheiro, sonhos e juras de amor. 

E se acaso não concordes, melhor será que acordes, ora, faça-me o favor, a história só é contada como a quer o vencedor! 

E quem conta aumenta um ponto ou outros tantos pontos mais, no louco trem desta vida somos todos passageiros, menos o condutor, o cobrador e a catraca eletrônica.