Crônica: Reverso da Medalha

AC de Paula (de São Paulo)

Crônica: Reverso da Medalha
AC de Paula é dramaturgo, poeta e compositor




Escrevi Brasil 100 anos de Negritude Olímpica a trajetória de Alfredo Gomes para homenagear não apenas meu avô pelo seu pioneirismo olímpico, que completará cem anos nos próximos Jogos Olímpicos de Paris 2024, mas também, a todos os atletas homens e mulheres, que neste período centenário e que em diversas modalidades esportivas, apesar dos constantes percalços, encheram o peito de sonhos, esperança, alegrias e medalhas.

Dou vivas aos atletas que na sua grande maioria são oriundos das quebradas da periferia, e que não vieram ao mundo à toa, e com tempo bom ou tempestade remaram sua canoa, e do seu jeito e maneira transpuseram os obstáculos.

Alguns deles afrodescendentes que trazem na alma cicatrizes, e que para a sorte dos seus azares não renegam suas raízes fincadas no Quilombo dos Palmares.

Salve aqueles que sem vacilo ou desatino seguem em frente nas pistas, nas pranchas, nos gramados, nas quadras, nas canoas, nos aparelhos, nas piscinas, nos tatames, nas pranchas, nos rinques, nas ondas, pois sabem muito bem que nas vielas do destino o diabo anda a espreita, e por isso, seguem dando soco na ponta da faca das dificuldades que existem entre o sonho e a realização.

Com a marreta da esperança quebram as pedras do caminho, sendo afrodescendentes não se acham coitadinhos, seus nervos não são de aço, querem muito mais, além, não são vacas de presépio que vivem dizendo amém!

São da paz, os guerrilheiros, são radicais da quebrada, que nunca dormem de toca, são de paz e de amor, são do bem, e sabem que a vida louca não dá camisa a ninguém, que de peito aberto e o tempo inteiro não entram em parada errada e querem sempre muito mais, não são conformados feitos “Pedro Pedreiro” do Chico, e nem serão o “Homem na Estrada” dos Racionais.