Cronicando: Que seja leve

Robledo Carlos (de Divinópolis)

Cronicando: Que seja leve
Robledo Carlos é representante comercial




Desejo de livro aberto e solto em bruma fresca de alecrim.

E nem sempre foram em calmarias e bonanças os mares que naveguei em busca de portos.

Queria ser eu um cais.

Tudo denso, cinza e viscoso, que embaça os olhos, resseca os lábios, ferem as mãos, sangra o coração.

Sempre o rude e insensato ou as parcas palavras que nada dizem, que não atingem aos ouvidos, quem dirá ao coração.

Quando são perceptíveis, não são compreendidas, antúrios sós em fundo de quintal deixados aos que partiram, ficando junto a pragas que de resto ficaram.

Queria mesmo era janela aberta, poder sentir a brisa, o frescor de sombras, a chuva que escorre na vidraça, deixando o petricor de fora, mas, já presente na lembrança chuvosa.

Os olhos em busca de dragões e cães nas nuvens que se formam, procuro estrelas, a primeira que atreveu-se com o sol ainda a cortejar a lua.

É mesmo o assopro brando do fogo aceso em chamas, a chaleira a arder a água que borbulha de felicidade que aquece.

Ouviu-se o estralo da madeira que chora em perfeita harmonia ao fogo.

Queria leveza, semente alada levada pelo vento para a alma.

Sem olhares em dúvidas, sem silêncios de incompreensão, sem selos do pertencismo.

Queria ouvir ao longe um shofar, onde até os pássaros não se atreveriam a cantar, a emudecer a cachoeira, queria leve, bem leve...

Não quero nada em minhas mãos, não quero posses, quero mãos abertas para o vento levar tudo o que retenho.

Talvez o que eu queira de posse, seja mesmo um pouco de sorte!