Cronicando: Quintal de casa
Robledo Carlos (de Divinópolis)
Velho portão um pouco tombado com dobradiças enferrujadas, tem por tranca um toco enegrecido, um corredor de pedras em mosaicos juntinhos e colados como se um espelho fosse, todo espatifado.
Minha bicicleta carcomida de ferrugem que parece por mim esquecida, jogada num canto largada.
Um carrinho de rolemã com tábua quebrada e um riscado no chão quase apagado, minha amarelinha sem cuidado.
Uma gaiola pendurada onde o canário cantava, era ali sua morada, talvez tenha fugido, foi atrás de sua amada.
Um canteiro de flores com funcho, hortelã e cebolinha penduado debaixo do pé de romã.
Velho giral sob a janela sem canecas e panelas que luzia no sol quente e também nas noites frias.
A cozinha sem cheiro de café, um fogão apagado e nem um gato malhado sequer, sob as paredes esfumaçadas.
Tem o quarto onde dormia, a cama estendida e vazia onde, deitado, eu sonhava com a velha coberta de retalhos que meu corpo aquecia.
Em cima do criado mudo um velho terço de Aparecida oriundo, um canivete e um relógio que nem tic tac se ouvia, também mudo, tudo isso no quarto surdo.
Na sala tem fotos de batismos, casamento e até uma viola pendurada, hoje calada, bem pertinho da Santa Imaculada.
Saio então pela porta da frente, tem o número sessenta como pendente. Deitado no velho tapete, meu velho cão decadente, parece notar a minha presença, apenas abana o rabo como se tivesse me notado, mas não se move o coitado, era apenas uma folha seca que o vento havia arrastado.
O jasmim permanece de pé, mas não diz nada engasgado, apenas ao vento balança, chorando emocionado.