Opinião: A última valsa
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho (de Passos/MG)
A não fugir das primícias do encanto, o término do relacionamento de um casal deveria ter o mesmo aceno do carinho e o pudor do primeiro encontro. A não fugir da delicadeza do ato, o mesmo zelo do primeiro abraço e a mesma ternura e meiguice do primeiro beijo, com direito a expectativas do momento.
O lirismo de que fala Vinícius de Moraes nas delícias de O Soneto de Fidelidade: “Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”.
Por que isso no geral não acontece? No reverso, é um crepitar de emoções negativas, voltadas para um mal que jamais e, por desventura, se imaginara. O sentimento das perspectivas e possibilidades dá azo e vez a conturbadas atitudes, palavras ácidas, atitudes desenfreadas, com o furor de quebras e fraturas de corações, quando não rupturas de ossos.
Em vez da decência do recato para um final feliz, ainda que não de todo eloquente, o melhor a fazer em fechamento de ciclos é cada um seguir o seu caminho, na paz do desejável, ainda que não prevalentes os votos.
E no refreável, sem refregas, brigas em razão (sem razão) de ressentimentos e decepções por atritos criados na frieza do desalento da separação, bem diverso do fator entendimento, num natural desfecho de um caso de amor que ficou para trás, com direito a sonhos de talvez.
Na explicação assimétrica para o dia a dia, ao invés da rescisão pura e simples de um contrato cuja substância em tese seja o amor prometido, senão maior, dá-se lugar a um coração alquebrado, partido, despedaçado, dilacerado, por uma dor sem nenhuma razão de ser, na sorte da desesperança, sem nenhuma serventia.
Quando se pergunta: terá sido amor de verdade? Com certeza, não. O amor de verdade deve se sobrepor às desventuras de meras e banais discussões de pontos de vista, porquanto relevante a celebração da compatibilidade acima da tão acionada química epidérmica. Superior até mesmo às diferenças de olhares enviesados do cotidiano.
Isto explica, em parte, o fim de um relacionamento, já que no todo se sabe do inexplicável distrato como qualquer outro. Com a sabedoria e necessidade do ato praticado, quando tudo parece apontar para o pior.
E a sabedoria manda: o melhor é terminar bem o que não tinha absolutamente nada para se iniciar na ventura do bem. E ponto final, ainda que reticências teimem atropelar situações.
Para os adeptos de um adeus sem sinal de melancólico, melhor deleitar-se com uma belíssima página musical: “La Dernière Valse”, voz e interpretação de Mireille Mathieu, para muitos, a sucessora de Edith Piaf.
Então, no compasso melódico, faça-se de “A Última Valsa” um pequeno grande instante para o que ficou para trás e se perdeu no tempo das paixões mal sucedidas. Mesmo porque nada dura para sempre.
Nesse caso, entre similares infortúnios de amores vãos – e muitos literalmente se vão – é aceitar o processo da irreversibilidade do término e estabelecer torcida para que o mundo se adeque ao fato de que a fila deve andar para o bem de todos, a evitar-se fantasmas e atropelos do passado.
Para casos tão delicados do cenário humano, assim não seria recomendável a canção “A Última Valsa” e, de fininho, deixar o palco à francesa? A princípio, os últimos passos – em passes ágeis – podem ocorrer em agridoces modos. Mas, para belos e futuros lugares de muitas estrelas, oportunas passarelas e pontes de incontáveis favas de mel. Quanto a isso, o tempo dirá.
”La Vie En Rose!”, a medida. A vida pode tornar-se cor-de-rosa, ou não. Quando, em tempo real, revoadas de pássaros podem se fazer num céu de muita luz, expectativa e esperança. Afinal, a vida segue.